terça-feira, 26 de março de 2013

Poeta Portugues Fernando Pessoa

 A lavadeira no tanque bate roupa em pedra bem

A lavadeira no tanque
Bate roupa em pedra bem.
Canta porque canta e é triste
Porque canta porque existe;
Por isso é alegre também.
Ora se eu alguma vez
Pudesse fazer nos versos
O que a essa roupa ela fez,
Eu perdeira talvez
Os meus destinos diversos.
Há uma grande unidade
Em, sem pensar nem razão,
E até cantando a metade,
Bater roupa em realidade...
Quem me lava o coração?

Fernando Pessoa


Sonho. Não Sei quem Sou Sonho. 

Não sei quem sou neste momento.
Durmo sentindo-me. Na hora calma
Meu pensamento esquece o pensamento,
             Minha alma não tem alma.

Se existo é um erro eu o saber. Se acordo
Parece que erro. Sinto que não sei.
Nada quero nem tenho nem recordo.
             Não tenho ser nem lei.

Lapso da consciência entre ilusões,
Fantasmas me limitam e me contêm.
Dorme insciente de alheios corações,
             Coração de ninguém. 


Fernando Pessoa


AUTOPSICOGRAFIA

O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.

E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.

E assim nas calhas da roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama o coração.

Fernando Pessoa


Sou o Espírito da treva,
    A Noite me traz e leva; Moro à beira irreal da Vida,
    Sua onda indefinida
    Refresca-me a alma de espuma...
    Pra além do mar há a bruma...
    E pra aquém? há Cousa ou Fim?
    Nunca olhei para trás de mim...
Fernando Pessoa

As vezes ouço passar o vento; e só de ouvir o vento passar, vale a pena ter nascido.
  Fernando Pessoa



A pálida Luz da Manhã de Inverno

 A pálida luz da manhã de inverno,
O cais e a razão
Não dão mais 'sperança, nem menos 'sperança sequer,
Ao meu coração.
O que tem que ser
Será, quer eu queira que seja ou que não.

No rumor do cais, no bulício do rio
Na rua a acordar
Não há mais sossego, nem menos sossego sequer,
Para o meu 'sperar.
O que tem que não ser
Algures será, se o pensei; tudo mais é sonhar.

 Fernando Pessoa






Mão Posta Sobre a Mesa

A MÃO POSTA sobre a mesa,
A mão abstrata, esquecida,
Imagem da minha vida...
A mão que pus sobre a mesa
Para mim mesmo é surpresa.
Porque a mão é o que temos
Ou define quem não somos.
Com ela aquilo que fazemos 


 Fernando Pessoa 























































Nenhum comentário:

Postar um comentário