quarta-feira, 27 de junho de 2018

Bye, bye, Brasil: quando a melhor saída é deixar o país

Em 2014, Jordana Couto deixou seu cargo de gerente em um banco em Belo Horizonte com o objetivo de encontrar um local de trabalho menos estressante. Trocou o estresse pela angústia. Após um ano de procura, ela se deu um ultimato: caso não achasse emprego até maio de 2015, deixaria o país. “Em junho de 2015, fui para os Estados Unidos. Cansei de mandar milhares de currículos, fazer milhares de entrevistas e nada”, conta Jordana, que hoje tem 31 anos e mora em Massachusetts. De acordo com a Receita Federal, entre 2013 e 2017, o número de brasileiros que deixaram definitivamente o país cresceu 136,5%. Os Estados Unidos são o principal destino, seguidos de Portugal.
Lá, Jordana arrumou trabalho, se casou e tem uma filha de seis meses. “Não pretendo voltar a morar no Brasil nunca mais. Aqui, as coisas funcionam, me sinto mais segura e tenho um poder aquisitivo maior, considerando que, no Brasil, as coisas são muito caras”, afirma. Ela faz parte da estatística medida pela consultoria especializada em expatriação JBJ Partners, que realizou um estudo sobre o perfil dos emigrantes brasileiros para os Estados Unidos e constatou que 95% não pretendem voltar – pelo menos antes dos próximos três anos.
Formada em ciências contábeis, com especialização e vários cursos em gestão, nos Estados Unidos Jordana trabalhou com limpeza, como babá e em cozinha de fast-food, onde depois virou gerente. “Trabalho, aqui, não falta”, comenta.
Segundo o levantamento da JBJ Partners, o país norte-americano tem atraído cada vez mais brasileiros com curso superior. “Em 2013, o percentual de profissionais que tinha no mínimo formação universitária era de 82%. Agora subiu para 94%. É uma verdadeira fuga de cérebros, são pessoas com PhD, doutorado e MBA que saem em direção aos Estados Unidos pois, no Brasil, o corte de investimentos é grande”, afirma Jorge Botrel, sócio da consultoria.
Foi exatamente o corte de financiamentos de pesquisas que fez uma veterinária pedir demissão de um cargo da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), onde era concursada, para morar nos Estados Unidos. Atualmente, ela é pesquisadora da área de gestão, manejo e economia de gado de leite na Universidade da Califórnia, em Davis. 
“A decisão de sair do Brasil aconteceu por dois motivos: o ambiente de trabalho para a pesquisa é muito burocrático, e a crise reduziu drasticamente os investimentos em pesquisas. O país chegou a cancelar recursos para projetos de inovação que já estavam aprovados. Aqui eu me sinto mais valorizada e até tenho planos de voltar, porém no longo prazo. Mas só volto se a condição do Brasil melhorar”, afirma a veterinária, que pediu à reportagem para não ter o nome revelado.
Na avaliação de Botrel, a crise é um dos principais fatores do aumento da emigração brasileira. “Sem oportunidades, os brasileiros estão vivendo uma grande desilusão e perderam a esperança de que as coisas vão melhorar. Por isso, muitos tomam a decisão mais radical de tentar a vida em outro país. Prova disso é o número de famílias inteiras que estão se mudando. Antes de 2013, 41% dos que iam para os Estados Unidos eram casados; agora subiu para 68%. O percentual de quem tinha filhos era de 63%, e cresceu para 83%”, afirma.
Há dois anos, a dentista Luyssa da Silva Conceição, 27, se mudou com o marido para Atlanta, também nos Estados Unidos. Há dois meses, a pequena Laura nasceu. “Não planejei ter ela aqui, mas foi a melhor coisa que aconteceu para o futuro dela. Agora é que não vamos embora mesmo”, conta Luyssa, que morava em Brasília.
“O que nos motivou a sair do país foi a crise no Brasil, a insegurança e a desvalorização das nossas profissões. Sentimos falta do nosso país, mas é uma pena não podermos viver nele”, lamenta a dentista.
De acordo com o levantamento da JBJ, a instabilidade econômica foi apontada como principal motivo da mudança por 45% dos pesquisados. A instabilidade política e a corrupção apareceram em 47% das respostas. “Apesar da crise, o maior motivo de quem sai do Brasil com destino aos Estados Unidos é a violência”, destaca Botrel. Uma pesquisa do instituto Datafolha enfatiza o descontentamento da população brasileira. O estudo indica que 62% dos jovens entre 16 e 24 anos têm vontade de deixar o Brasil.
Caminho de volta

Se muitos querem ir, já tem imigrante que veio e quer voltar. Essa é a realidade do senegalês Mustafah Akie, 30. Formado em comunicação, ele trabalha como ambulante vendendo relógios e bijuterias no hipercentro de Belo Horizonte. “Achei que no Brasil estaria melhor do que no Senegal, mas não está. Vim há três anos para trabalhar, mas emprego está muito difícil. Agora, quero juntar dinheiro para voltar para o meu país”.
O Tempo

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