domingo, 21 de março de 2021

É necessário perceber o que deixamos no outro quando nos entregamos para ser

Se deixa

Por Milene Costa

 Relacionamento é uma tarefa artesanal, visceral, transformadora. Relacionar-se é envolver o que temos, como as bagagens que carregamos, e sermos envolvidos pelo que o outro carrega, aquilo que ele traz e que explica o que ele é. Nesse encontro deixamos muito de nós no outro. Deixar mais de nós é viver com entrega e transparência, sem medo de ser o melhor que podemos ser. Quero, então, estimular todos nós a deixarmos, a começar de hoje, mais de nós nos outros.

O que posso deixar de mim no outro? Quando estamos dispostos a nos relacionar de verdade numa entrega sincera na construção processual dos sentidos, pensamentos e atos, o outro nos revela a nós mesmos. Essa revelação mostra a nós mesmos nossas habilidades de ser, e ao mesmo tempo nossas limitações de ser. No quesito limitações, deixamos no outro nosso respeito diante de sua individualidade. Deixar que o outro seja ele, sem julgamentos ou condenações que o reprimam ou o impeçam de se expor.

Já com as habilidades descobertas, deixar-se no outro é ser, sem limites, todo bem que podemos ser. Servir o outro, cuidar de suas necessidades naquele recurso que temos para oferecer, preocupar-nos com seu bem-estar, sermos o melhor com as qualidades que podem ser oferecidas. O essencial dessa vida é ser toda riqueza de qualidade pessoal que se pode ser. A forma que tratamos alguém diz muito sobre o que desejamos deixar no outro.

Toda relação é um se deixar no outro. A vida que realmente vale a pena ser vivida é aquela em que nos permitimos deixar o melhor que há em nós no outro. Que possamos ser lembrados como aqueles que deixaram a melhor qualidade do ser nos outros. As relações são formas protetoras que asseguram a saúde existencial das emoções. Paremos de adoecer e comecemos a nos curar nos deixando no outro.

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