terça-feira, 23 de agosto de 2016

Ligação com terras mineiras

Após se mudar, na década de 40, para Belo Horizonte, a convite do então prefeito Juscelino Kubitschek, Alberto da Veiga Guignard (1892-1962) atuou como professor e artista, deixando a sua contribuição no cenário artístico local. De maneira semelhante, o seu trabalho também seguiria novos rumos, uma vez que as paisagens mineiras, especialmente as de Ouro Preto, impactaram as suas criações de maneira permanente.
Celebrar a trajetória e o legado desse pintor, que nasceu em Nova Friburgo (RJ), é o objetivo da Semana Guignard, prevista para acontecer entre os dias 25 e 31, em Ouro Preto. Em sua sexta edição e realizado pelo Museu Casa Guignard, o evento vai reunir diferentes atividades que abrangem vários aspectos da vida e da obra do homenageado. No dia 25, por exemplo, haverá um bate-papo entre o artista Wanderley Alexandre da Silva e o coordenador do espaço, Gélcio Fortes, sobre a relação de Guignard com a ex-capital mineira.
Já no dia 26, os críticos de arte Márcio Sampaio e Olívio Tavares de Araújo vão discutir as características que fizeram do fluminense um nome respeitado nas artes plásticas. Neste mesmo dia, será inaugurada também a mostra “Estudos de Carlos Scliar para Um Retrato de Guignard”, composta por 11 desenhos produzidos pelo gaúcho. De acordo com Andrea de Magalhães Matos, superintendente de museus e artes visuais, o conjunto abarca os esboços do que deveria ter originado uma pintura.
“Pouco antes de morrer, Guignard combinou com Carlos Scliar de ambos se retratarem. Guignard fez uma tela em óleo de Scliar e esse quadro está no Rio Grande do Sul. Na exposição, nós vamos exibir uma reprodução dele. Scliar, por sua vez, fez alguns desenhos de Guignard para depois produzir o retrato, mas ele nunca chegou a confeccionar a peça definitiva”, afirma Matos.
Outro destaque é a exibição da aquarela “Paisagem de Ouro Preto”, feita por Guignard, em 1947. A obra foi comprada pela instituição neste ano e agora será mostrada pela primeira vez ao público. A superintendente conta que a aquarela foi dedicada a Mary Vieira, ex-aluna do pintor e pertencia à coleção particular da família de Maria Amélia A. C. Pimenta antes da peça integrar o acervo do museu.
“Quando nos ofereceram o trabalho, nós nos interessamos por ele e realizamos uma campanha para conseguirmos adquiri-lo. Nele aparece uma vista de Ouro Preto do alto e se notam umas fachadas que tornam possível identificar a cidade”, acrescenta Matos. A criação, de acordo com ela, figura como uma das mais importantes aquisições do museu que, além dessa, possui um quadro bastante emblemático do modo como as paisagens mineiras conquistaram o olhar do artista.
“Nesse nós vemos uma cidade em que a gente pouco reconhece nela Ouro Preto. Ela reflete muito mais um lugar imaginário. Na aquarela essa identificação é mais nítida”, pontua. A curadora Denise Mattar, convidada para falar no dia 29 sobre a sua experiência de montagem da exposição “Guignard, Sonhos e Sussuros”, em 2014, na galeria Almeida Dale, em São Paulo, observa como o pintor construiu um repertório imagético responsável por fixar uma visão até hoje predominante do interior de Minas.
“Eu acho que a paisagem de Minas pode ser entendida antes e depois do Guignard. Praticamente ninguém escapou da influência dele, mesmo aqueles que se posicionaram contra. Ele faz uma coisa muito interessante e que só um artista plástico faz. Por exemplo, se você pensar numa mulata, logo poderá recordar das pinturas do Di Cavalcanti. Se pensar na Bahia, logo vem a mente um desenho do Carybé. Quando se imagina Minas, o que salta são as paisagens de Guignard”, observa Mattar.
Ela sublinha que a afinidade de Guignard com as paisagens mineiras pode ter uma relação com a própria origem do artista, que embora, tivesse nascido no Rio de Janeiro, não tinha como referência maior o ambiente litorâneo.
“Ele era de Nova Friburgo, era uma pessoa da montanha. Quando ele vai para Minas, ele um pouco que reencontra esse lado da sua terra natal. Tanto que em suas pinturas parecem os famosos balões que são imagens que ele tinha da infância”, diz.
“Eu acho que Minas Gerais foi para ele um reencontro com as infância dele, com as suas origens. Ele trouxe tanto isso para o seu trabalho a ponto de as pessoas pensarem que ele era um pintor mineiro. E, de fato, ele deverá ser identificado assim eternamente porque parte da obra feita em Minas Gerias é muito significativa”, conclui.
Agenda
O quê. Semana Guignard
Quando. De 25 a 31 de agosto
Onde. Museu Casa Guignard (rua Conde de Bobadela, 110, centro, Ouro Preto)
Quanto. Entrada gratuita
O Tempo

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