terça-feira, 1 de maio de 2018

Ansiedade afeta sete em cada dez desempregados no Brasil

Se você perdeu o emprego e sofre com angústia, baixa autoestima, ansiedade e medo, saiba que não está sozinho. Mais da metade das pessoas que passaram por essa situação afirma ter apresentado pelo menos um desses sintomas. A ansiedade afeta 70%, o estresse, 64%, e o desânimo, 60% dos entrevistados em uma pesquisa realizada pelo SPC Brasil e pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) nas capitais brasileiras. Vale lembrar que o Brasil possui hoje 13,7 milhões de desempregados, segundo o último levantamento do IBGE.
Patrícia* está desempregada há um ano e dois meses e desenvolveu depressão. “Os sintomas foram só se agravando à medida que o tempo passava. Depois que o dinheiro acaba, então, a barra fica pesada. E o mercado está terrível, não existe oportunidade, o tempo vai passando, e sair da cama fica cada vez mais difícil”, diz Patrícia, 28, que tem curso superior e faz outra graduação.

Segundo a economista-chefe do SPC Brasil, Marcela Kawauti, a parte emocional pode dificultar o processo de recolocação. “A baixa autoestima cria uma espiral negativa, a pessoa deixa de mandar currículo, fazer um curso, fica com vergonha de avisar amigos e familiares que está buscando emprego”, alerta. Para a economista, ficar chateado é normal, o problema surge quando os sentimentos impedem que as ações sejam realizadas. Para o consultor em educação financeira Carlos Eduardo Costa, reconhecer a situação ajuda a resolvê-la. “Até na hora de fazer o orçamento, priorizar o remédio, se necessário, é bom, porque ele ajuda a superar o quadro. Pode deixar a racionalidade funcionar”, diz.

A pesquisa aponta que a falta de emprego afeta a saúde: 47% das pessoas relatam mudança no apetite, e 35%, alterações na pressão arterial. E as relações pessoais se deterioram. “Atrapalha a relação com a família, a pessoa se isola dos amigos. Como sair sem dinheiro? Sem ânimo? Aí vira uma bola de neve. Perdi 15 kg”, conta Patrícia.
Luíza*, 45, busca recolocação desde o fim de 2016 e diz que a ansiedade gera atrito com o marido. “Acabo brigando com ele, peço pra separar quase toda semana, estou chata, chorona. Só queria aquela parte de mim de volta, era a minha melhor parte”, afirma. “O trabalho é um fator de dignidade para o sujeito, da sua identidade. O desemprego é uma perda pessoal, como o luto”, explica a especialista em psicologia organizacional e do trabalho Denise Ferreira.
Segundo ela, a pessoa deve lembrar que a situação não é por culpa dela. “Não se trata de incompetência. O desemprego cresceu, empresas fecharam, é situacional. A depressão afeta as pessoas mais comprometidas”, diz. “Ajuda quando ela percebe que não está sozinha; é um quadro do país”, conclui.
Esperança
Devagar. O estudo aponta que 68% estão otimistas quanto à recolocação em 2018. Marcela Kawauti lembra que a taxa de desemprego deve cair neste ano, mas pouco.

 

Manter energia e networking

Buscar até um trabalho voluntário é válido para não deixar o desânimo e a depressão tomam conta, na opinião da psicóloga do trabalho Denise Ferreira. “Não se deve perder a energia do trabalho. O baque é forte, e a pessoa sente dor no corpo, por isso, às vezes, quer ficar um tempo sem fazer nada. Mas não recomendo, tem que manter o ritmo”, aconselha Denise. 
Para a economista-chefe do SPC Brasil, Marcela Kawauti, buscar apoio virtual e presencial também funciona. “ONGs reúnem pessoas desempregadas, fomentam o networking. Na internet, é possível fazer cursos gratuitos que ajudam na recolocação”, relata Marcela. “Ser criativo e manter relações com pessoas e instituições”, acrescenta a economista. 
“Para a ansiedade, faço terapia e exercícios físicos em casa”, conta Luíza*, 45, que está desempregada. “Atividade física é fundamental para manter a saúde mental”, diz Denise.
“Quem consegue controlar o emocional vai fazer o racional funcionar mais e melhor. E isso ajuda a conseguir um novo emprego”, diz o consultor em educação financeira Carlos Eduardo Costa.

 

Nivelar expectativas pode trazer satisfação pessoal

Para Renata*, 26, a cura da depressão veio quando ela desistiu de buscar um emprego de carteira assinada e foi trabalhar como autônoma. “Sempre fui pressionada pela família que tinha que estar em uma empresa, ter carteira assinada. Acho que era uma questão de status. Isso agravava meu quadro”, relata. 
“Hoje estou bem, sem tomar remédio há um ano e sei que posso me virar sozinha. Se falta emprego, não falta trabalho”, diz. Segundo ela, o trabalho autônomo garante uma renda maior que um emprego formal. “O importante foi vencer a depressão. Com ela, não tem emprego, família, relacionamento que funcionem”, diz. “Nem sempre é fácil, trabalho de dez a 15 horas por dia para garantir meu dinheiro e, como trabalho em casa, às vezes ouço que estou lá fazendo nada”, conta.
O Tempo

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