Rodrigo Silva
Um grupo de cientistas norte-americanos publicou um estudo recente a partir de amostras de gelo (com mais de 15.000 anos) coletadas no Tibet (China) que está ajudando a comunidade científica a revelar as características ambientais daquela época.
Mas o que mais nos chamou a atenção sobre esse estudo foi a presença de mais de 33 populações de vírus, das quais 28 são totalmente desconhecidas. Mas você deve estar se perguntando: “se esses microrganismos estão congelados, como poderiam causar algum tipo de malefício?”. A resposta está em estudos anteriores que evidenciaram algum tipo de atividade biológica desses micróbios mesmo em baixíssimas temperaturas e que, portanto, há possibilidade de “ressuscitá-los”.
Mais uma vez, este tipo de pesquisa alerta para um tema largamente debatido na comunidade científica: as mudanças climáticas. A NASA (Agência Espacial Norte Americana) revelou em seus estudos que há um aumento considerável na quantidade de gases tóxicos na atmosfera desde a Revolução Industrial no século XVIII e XIX e que isso leva, como consequência, ao aumento da temperatura global.
Não descartando a evidência de que as variações de temperatura são eventos cíclicos naturais, há plena convicção de que as ações antrópicas (aquelas causadas pelos seres humanos) são responsáveis pela aceleração drástica desse processo, revelando que o aquecimento atual está ocorrendo aproximadamente dez vezes mais rápido que a taxa média de aquecimento da recuperação da Era do Gelo.
Pois bem. Agora vamos juntar as duas informações: mudanças climáticas e presença de microrganismos no gelo glacial de milhares de anos atrás. O que temos? De acordo com os cientistas, há duas possíveis respostas para isso. A primeira está relacionada à perda de biodiversidade (diversidade de formas de vida) microbiana devido ao derretimento do gelo, o que dificultaria as pesquisas sobre esses arquivos microbianos e sobre as condições climáticas daquela época.
A segunda, muito mais perigosa, porém não excludente da primeira, se refere à liberação desses micróbios para o ambiente em que vivemos, o que poderia (não há estudos sobre isso) levar a outras pandemias em função da periculosidade desses “novos” vírus.
Portanto, essa caixa de Pandora (com muitas coisas que ainda desconhecemos) pode ser aberta a qualquer momento caso não fiquemos atentos às evidências das mudanças climáticas que se apresentam cotidianamente por meio de diferentes formas (efeito estufa, acidificação dos oceanos, eventos climáticos extremos etc.) e que, sem a menor sombra de dúvidas, afetam nossas vidas.
Rodrigo Silva é biólogo, doutor em Ciências e coordenador do Curso Superior de Tecnologia em Gestão Ambiental do Centro Universitário Internacional Uninter
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