“De boas intenções o inferno está cheio” diz o ditado popular que, possivelmente, quer dizer que não basta ter uma série de normas e regras junto com a boa intenção de segui-las. É fato que as normas morais, assim como a própria construção da sociedade, não são frutos de uma ordem transcendente, mas sim uma criação dos próprios seres humanos como agentes da história. Diria que esse é o espaço da nossa responsabilidade coletiva e, por isso mesmo, assustadora. É muito mais tentador acreditar que as nossas vidas já foram predestinadas pela vontade divina ou ainda pelo destino. De protagonistas passamos, repentinamente, a meros coadjuvantes!
Claro, somos construtores da história. Protagonistas do nosso próprio espaço e do nosso próprio tempo. Todavia, preocupa-me o que fazemos com nosso espaço e com o nosso tempo. Quais os critérios que utilizamos a fim de construir o que chamo de espaço-tempo? Em última análise, qual o critério ético para a construção de relações solidárias na história e de um espaço de construção ética de cidadania planetária?
Creio que o mais importante dos critérios seja o da vida humana. Toda vez que este princípio for ameaçado por uma norma, seja ela moral, política, econômica ou religiosa, esta norma deve ser desobedecida e alterada. Cabe ressaltar nesse momento a necessidade de cada cidadão conhecer as normas de funcionamento das mais diversas instituições para saber se elas estão ou não respeitando o direito à vida de cada ser humano.
Dessa forma, perguntas de fundo religioso se fazem inevitáveis: os fins religiosos justificam todos os meios possíveis? Justifica-se tudo por causa da entrega religiosa, até mesmo o abuso do poder político-econômico? Poderia ser aceito como preceito religioso aquilo que é manifestamente desumano, que claramente prejudica e fere o ser humano?
A reflexão sobre o humano nos indica caminhos de peregrinação comum, tais como: uma profunda convicção da unidade fundamental da família humana e da igualdade e dignidade de todos os seres humanos; um sentimento da inviolabilidade do indivíduo e de sua consciência; um sentimento de valor da comunidade humana planetária; a consciência de que o poder não se identifica com a justiça, de que o poder humano não é autossuficiente nem pode ser absoluto.
A reflexão sobre o humano nos permite recuperar a dimensão do homo sapiens que foi ofuscada quase mortalmente pelos desejos infinitos e irrefreáveis do homo economicus.
Diante de uma economia de mercado e de uma religião de mercado somente cabe a resposta da soberania do humano sobre as relações políticas, econômicas, morais e religiosas para se construir uma sociedade onde caibam todos.
Autor: Luiz Alexandre Solano Rossi é doutor em Ciências da Religião e professor da graduação em Teologia Interconfessional do Centro Universitário Internacional Uninter.
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