quinta-feira, 24 de julho de 2014

O pássaro encantado

Por Milene Costa



Um pássaro usou as palavras para encantar nossa mente e coração, pois realidade demais endurece.


Não poderia deixar de externar minha profunda gratidão a esse pássaro encantado chamado Rubem Alves. O conheci na faculdade, li muitos livros seus sobre temas de religião, devorei seus pensamentos sobre espiritualidade e amor, me encantei com sua opinião sobre Deus – “um mar que se compreende, não passa de um aquário” – e fui desafiada por sua concepção de solidão – “muitos podem ser bons companheiros. Mas, para me amar, é preciso amar minha solidão”.

 

O último livro de sua autoria que li, há cerca de um ano atrás, foi “Cantos do pássaro encantado”, uma descrição belíssima a respeito do amor em suas alegrias e tristezas, uma abordagem sobre a vida, morte e ressurreição do maravilhoso sentimento de amar. Com Rubem Alves, descobri que é necessário permitir que o coração e a mente viagem por terras e ares desconhecidos. E que brincar é viver, algo que ainda preciso aprender.

 

Minha gratidão se deve à oportunidade que tive de devorá-lo através dos livros. Sim, ele dizia que precisamos aprender o processo da antropofagia – a arte de comer a carne humana, que os civilizados definiram para os canibais. Na visão dos canibais, comer a carne humana significa comer sua alma, seus sentimentos, seus pensamentos. Significa absolver sua alma. Talvez precisemos aprender a comer a alma, os sentimentos e os pensamentos dos outros para, assim, vivermos melhor.

 

O pássaro voou, mas não perdeu o seu encanto. Como os africanos que festejaram o fato de terem conhecido Mandela, no dia de sua morte, eu festejo com um profundo agradecimento o fato de ter conhecido e devorado, por meio de suas palavras, Rubem Alves. Ainda quero ser um pássaro que, todos os dias, deixe um peso pra trás para conseguir voar mais alto e mais leve. Obrigada vida por esse presente!
 
Rubem Alves

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