sexta-feira, 24 de junho de 2022

17ª MOSTRA DE CINEMA CHEGA A OURO PRETO CELEBRANDO OS CINEMAS INDÍGENAS

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Ouro Preto

24 de junho de 2022

Após dois anos, CineOP volta a acontecer presencial e online e totalmente gratuita na histórica cidade mineira

Lucas Porfírio 

Os cheiros de ervas que exalavam na Praça Tiradentes, no centro de Ouro Preto, na noite desta quinta-feira (23), anunciavam: Começou a 17ª Mostra de Cinema de Ouro Preto.  Em 2022, o evento que tem por tema “Memória Audiovisual no Brasil: Resistência e Resiliência no Tempo” celebra, principalmente, os cinemas indígenas e as produções audiovisuais dos povos originários. 

Abrindo a programação que vai até o dia 27 junho, o Comitê Mineiro de Apoio às Causas Indígenas reuniu os povos Kambiwá, Aranã Pataxó, Xukuru kariri e os povos Quechua e Aymara para o ritual “Caminhos de Pachamama", que invoca a força dos Encantos de luz e honra a Mãe Terra.

“Viemos trazer não uma cerimônia, mas um ritual. [...] Não é uma performance, não é uma cena de teatro. É a junção de várias etnias indígenas desterritorializadas, resultado de um processo que só vai piorar com o marco temporal. É resultado de um processo de desapropriação das nossas terras, de esbulho e a gente foi parar em contexto urbano. Na solidão de ser indigena sem floresta, sem território, a gente se une a outros povos. Esse é o resultado de vários povos que lutam pela mãe terra e pela nossa dignidade”, afirmou Poranga Pituna, indigena Kambiwá e membro do comitê mineiro de Apoio às Causas Indígenas. 

A 17ª Mostra de Cinema de Ouro Preto, durante seis dias, exibirá 151 filmes, de 08 países (Brasil, Argentina, Bolívia, Estados Unidos da América, Israel, Peru, Rússia, Uruguai) e 21 estados brasileiros. A diretora da Universo Produção, realizadora da CineOP, Raquel Hallak, destaca que o Brasil não pode esperar mais, o Brasil é terra indigena. 

“Começamos a 17ª edição da Mostra de Cinema de Ouro Preto. Uma mostra dedicada ao cinema patrimônio, trazendo a produção audiovisual indigena. Estamos prestando homenagem a dois cineastas Guarani do Rio Grande do Sul, que estão aqui celebrando, em nome de todos os cineastas indígenas, mais de duas décadas de produção. Uma produção que é muitas vezes invisibilizada, desconhecida do grande público [...]. A CineOP dedica a sua programação, a sua abertura a essa celebração dos cinemas indígenas", completou Hallak. 

Homenagem aos cineastas Mbyá-Guarani

A noite de abertura contou, ainda, com homenagens aos cineastas Mbyá-Guarani, Kuaray Poty (Ariel Ortega) e Pará Yxapy (Patrícia Ferreira). A dupla recebeu o troféu Vila Rica da 17ª CineOP. Logo após, o público assistiu no Cine-Praça a exibição do média-metragem “Bicicletas de Nhanderú” (2011), com direção de ambos, e do curta-metragem “Nossos Espíritos Seguem Chegando – Nhe’e Kuery Jogueru Teri” (2021), assinado por Yxapy e Bruno Huyer.

“Estou muito emocionado por receber essa homenagem [...]. Quero agradecer aos vários que nos acompanham nesta caminhada, neste trabalho [...]. O cinema permitiu que nós povos originários pudéssemos recontar a nossa história. Ficamos invisibilizados durante muito tempo. Nossos antepassados não tinham oportunidades como temos hoje, de conversar com vocês não indígenas. [...] Hoje em dia, graças a essa tecnologia, essa arte,  a gente pode contar a nossa história para vocês saberem da nossa luta, dos nossos anseios [...]. Está registrado”, disse o cineasta Kuaray Poty (Ariel Ortega). 

Pará Yxapy (Patrícia Ferreira) também estava muito emocionada e destacou o quão significativo é ocupar espaços como o da mostra de cinema e como os povos indígenas estar nestes espaços deveria ter sido sempre normal: “Hoje a gente está conseguindo espaço através de muita luta, de muito trabalho que estamos fazendo. Quero agradecer, novamente, aos nossos parceiros, principalmente, a quem acompanhou a nossa caminhada sempre”. 

Programação gratuita durante todo o final de semana

A secretária de Cultura e Turismo, Margareth Monteiro, falou da importância da 17ª CineOP para a histórica cidade mineira. “Receber o CineOP só fortalece o conceito de uma cidade patrimônio mundial. [...] Antes de todos nós, estavam os indígenas. São a eles que dedicamos essa oportunidade, por meio do CineOP, para festejar e clamar pelo respeito à cultura indigena e pelo respeito à preservação deste patrimônio. O Índio é um patrimônio brasileiro. Essas terras, antes de mais nada, são indígenas. O CineOP traz para todo público uma série de produções cinematográficas que mostram e intensificam essa identidade”, finalizou. 

Até a próxima segunda-feira (27), de forma gratuita,  o evento conta com oficinas, Cine-Expressão - A Escola vai ao Cinema, programação artística no Sesc Cine-Lounge (com shows de artistas como Marina Sena, no Centro de Artes e Convenções da UFOP), cortejo, Festa Junina “Arraiá da CineOP” e muito mais. Toda a programação da 17ª Mostra de Cinema de Ouro Preto pode ser conferida no site:https://cineop.com.br/.

Jornal O Liberal
Região dos Inconfidentes


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