sábado, 24 de agosto de 2024

Essa rua que encanta

O Prata, ainda não sabia o que era desenvolvimento, tudo estava no seu início.
As ruas eram pouco iluminadas, as luzes dos postes eram amarelas de tão fracas.
Os carros eram poucos, ouvia poucas buzinas, a rua não tinha nenhum movimento, e todos dormiam cedo na cidade.
A rua que nasci e fui criado era muito tranquila, calçamento não existia e não era arborizada, a consciência ambiental ainda não tinha chegado até aos gestores públicos.
A nossa diversão predileta era brincar de pique com as meninas e jogar futebol na rua.
A felicidade da meninada era bola quicando na área, e a rua toda transformada, em campo de futebol.
Nesse clima de camaradagem, todo mundo se encontrava na rua.
Após as aulas reuníamos, e sentíamos donos da rua e de nossas vidas, libertos de pai e mãe.
Num esforço de memória, aqueles acontecimentos vêm à cabeça com muita saudade da infância, esta fase da vida especial e única.
Dentre vários fatos, lembro-me de um, que meus colegas falavam, embora nunca tenha visto, da existência de um animal que aparecia na rua e assombrava a todos.
Diziam ser uma criatura que dava medo até em adultos, a mula sem cabeça era temida por todos.
Ninguém queria vê-la.
Quando alguém falava do tal animal, todos lançavam um olhar estranho, ficavam apreensivos.
Isso punha todos intrigados, tal a curiosidade em saber como êle era.
A noite, após algumas partidas de futebol, ninguém se arriscava a ficar na rua, com medo do bicho.
Éramos tranquilizados pelos nossos pais, de que o animal não existia, às vezes íamos dormir com aquilo na cabeça.
Diziam não ser verdade, ser ficção, que aquilo estava na imaginação das pessoas.
Realmente nunca o vi, mas fiquei várias vezes com medo.
Tivemos vários casos de amigos que acordavam durante a noite com pesadelos.
Comentários surgiam os mais variados possíveis, sempre falava que alguém viu o animal, que era grande e muito feio; com isso a apreensão era geral.
Por pura obra do acaso, venho a saber deste acontecimento que mudaria o curso da história; que esta imagem falsa e negativa, era passada aos meninos daquela rua, por um senhor que morava lá e detestava o gorjear de um determinado pássaro, nativo na região.
Sentindo incomodado pelos assobios altos de alguns meninos, que imitavam o pássaro, falava da mula sem cabeça, como forma de intimidação.
Como um apaixonado pela história da minha infância, fazendo uma análise desse fato, percebo que não ficou nenhum vestígio de raiva, e nenhum sinal de ressentimento, nas pessoas.

Cristóvão Martins Torres


Política não evoluiu no período pós-redemocratização

*Por Luiz Carlos Borges da Silveira


É profundamente lamentável e extremamente preocupante que uma simples e isenta análise chegue à conclusão de que nas últimas quatro décadas a política e os políticos brasileiros não apresentam nenhuma evolução, seguindo viés contrário a todo o processo de avanços e modernizações fantásticas nos mais importantes segmentos da vida no país e no mundo.


Não é nenhum exagero afirmar, diante do que se vê ao longo dos anos, que no Brasil a prática política retrocedeu, ao gosto e interesses de seus protagonistas que esquecem, ou fazem questão de não lembrar, a verdadeira essência da política como arte e ciência da boa administração pública em prol do desenvolvimento do país e bem-estar de seus cidadãos.


Ao período ditatorial (1964-1985) se debitavam a estagnação do pensamento político, repressão às manifestações de novas ideias, obstáculos ao surgimento e formação de novas lideranças. Então, pensava-se que ao final dessa era a política brasileira seria diferente, melhor e mais identificada com os novos tempos. Não foi o que aconteceu neste período chamado de Nova República. Aos poucos os políticos de valor foram passando, outros foram ocupando espaço no cenário e tudo voltou aos tempos da velha política.


Em praticamente quarenta anos de retorno da democracia plena, dois presidentes foram cassados por corrupção e outros delitos administrativos; um ex-presidente foi denunciado, investigado, processado, julgado, condenado em primeira e segunda instâncias da Justiça Federal e finalmente preso. Entre os delitos foram elencados corrupção ativa de congressistas (Mensalão) e o mais formidável esquema de corrupção (Petrolão) que quase quebrou a gigantesca estatal do petróleo.


Envolvendo o esquema criminoso estavam agentes do alto escalão do governo, gestores de empresas públicas, empresários da área privada além de dirigentes partidários, políticos e funcionários públicos de diversos calibres. O principal acusado, ex-presidente de dois mandatos, acabou beneficiado em incrível chicana jurídica e teve as diversas condenações anuladas. Voltou à política e está em terceiro mandato. Como efeito cascata, os demais condenados estão aos poucos voltando ao cenário por mercê da mesma graça judiciária. Não há que se questionar se houve falhas nos processos e julgamentos na primeira instância, a verdade é que os crimes ocorreram e a corrupção foi um fato – tanto que muitos condenados devolveram judicialmente parte do dinheiro desviado.


Outro ex-presidente, de mais recente passagem pelo Planalto, foi declarado pela Justiça Eleitoral inelegível até o ano de 2030 e ainda responde a outros processos e investigações em curso decorrentes de delitos políticos e administrativos que vão desde falsificação de atestado de vacina até subtração de bens públicos, caso das joias doadas ao país por delegações estrangeiras, e envolvimento em movimento supostamente golpista. Embora não se tenha conhecimento de corrupção, as circunstâncias indicam possibilidade de condenações pesadas.


Mas, o problema não é circunscrito apenas à esfera federal. As malfeitorias descem até ao mais singelo município. Segundo pesquisa da Confederação Nacional de Municípios, dos 5.563 prefeitos eleitos há quatro anos, 383 não mais estão no exercício do mandato. Destes, 210 foram cassados por variados motivos. Um portal nacional de notícias, com base em pesquisa junto ao TSE, afirmou que no Brasil a cada 8 dias um prefeito é retirado do cargo pela Justiça Eleitoral.


Para que não se deduza que corrupção é mal que acomete apenas políticos, o judiciário também não é imune e coleciona casos de punição a magistrados de todos os graus. Ano passado o STJ confirmou afastamento de quatro desembargadores do TRT da 1ª. Região, denunciados pelo MPF por corrupção, peculato lavagem de dinheiro e organização criminosa. Este é apenas um exemplo. O TCU e alguns TCEs também têm casos semelhantes.


Voltando ao tema específico da política, o que preocupa é a impressão de que no Brasil não mais existem pessoas dedicadas, honestas e com boas intenções dispostas a entrar na política.  A cada eleição há renovação, ainda que não expressiva, mas caras novas são eleitas para o Congresso, para as Assembleias estaduais e Câmaras municipais. Todavia, no comportamento dos parlamentos não se observa mudanças para melhor. Ou os bons eleitos são tão poucos que acabam sufocados enquanto vozes dissonantes, ou acabam aderindo aos esquemas viciados para mais tarde obterem vantagens. Ou, ainda pior, talvez já venham contaminados de origem.


O Congresso Nacional segue na perniciosa prática de criar problemas para vender soluções. O Executivo se vê compelido a negociar individualmente com parlamentares e grupos de pequena representatividade porque os partidos não são suficientemente fortes para impor a liderança nas bancadas. 


Preocupante é saber que o futuro do país e as esperanças da grande maioria dos brasileiros estarão sempre dependentes de políticos e governantes com esse currículo nada confiável. Até quando?


*Luiz Carlos Borges da Silveira é empresário, médico e professor. Foi Ministro da Saúde e Deputado Federal.



Eduardo Betinardi
E-mail: 
eduardo@pmaisg.com.br
Site: 
www.pmaisg.com.br





PS : O empresário, médico e professor paranaense Luiz Carlos Borges da Silveira é empresário, ex-ministro da Saúde e ex-deputado federal, produziu o artigo “Política não evoluiu no período pós-redemocratização”, analisando o cenário político e os políticos brasileiros nas últimas quatro décadas.

                                                                                                            



























                    
                                                                                                                                                                                                                                                                                    




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