domingo, 28 de janeiro de 2018

Júri da Mostra de Tiradentes premia 'Baixo Centro'

A vitória do longa-metragem “Baixo Centro”, ganhador do Troféu Barroco, dado pelo júri da crítica na 21ª Mostra de Cinema de Tiradentes, rendeu os agradecimentos de praxe da dupla de diretores, Ewerton Belico e Samuel Marotta, e também a leitura de uma carta crítica aos mecanismos estaduais de fomento para o setor do audiovisual. “Muito obrigado, fico muito feliz, queria agradecer à Mostra, ao júri, agradecer a todos que contribuíram para o filme, mas a gente tem uma coisa séria para falar para vocês”, disse Belico na cerimônia de entrega dos prêmios, na noite do último sábado, antes de ler a carta assinada pela Associação de Trabalhadoras e Trabalhadores do Cinema Independente de Minas Gerais.
“A 21ª Mostra de Tiradentes teve início quando surgiu o edital estadual de produção no valor de R$ 16,5 milhões, mas nós da Associação de Trabalhadoras e Trabalhadores do Cinema Independente de Minas Gerais não vemos motivos apara comemorações. O edital foi elaborado sem a participação pública, a partir de uma relação confusa, e projeto de política pública não se faz apenas despejando recursos num setor, desconsiderando a realidade da produção do mercado e a indústria do audiovisual. Também não se faz impondo tempos irreais no processo e transformando a política cultural em mera questão de resultados e estatísticas”, ressaltou.
Belico seguiu com a leitura da carta, reivindicando uma maior participação da classe audiovisual nos processos de elaboração de editais de financiamento e distribuição de verba para produção: “Pensamos ser este o momento ideal para retomar alguns princípios básicos para o setor, com editais que garantam a participação pública em sua elaboração, e com processo democrático nas montagens das comissões de seleção, para que busquem maior equilíbrio em termos de representatividade e que propiciem estímulo real às produtoras do interior do Estado”.
“Baixo Centro” era uma das duas produções mineiras na competição e foi toda realizada nas ruas de Belo Horizonte, acompanhando um pequeno grupo de personagens que se relacionam com o ambiente urbano da capital. A vitória marca o segundo ano consecutivo de um filme mineiro premiado pelo júri da crítica da Mostra Aurora. Em 2017, “Baronesa”, de Juliana Antunes, ganhou o Troféu Barroco. Minas, aliás, tem sido um Estado constantemente reconhecido na Mostra, com prêmios para “Os Residentes” (2011) e “A Vizinhança do Tigre” (2014).
Mulheres. Outro momento marcante na cerimônia de encerramento da 21ª Mostra de Tiradentes foi a entrega do Prêmio Helena Ignez, oferecido pelo júri da crítica a um destaque feminino em qualquer função nos filmes das mostras Aurora e Foco. A distinção, este ano, foi para a atriz trans Julia Katharine, roteirista e protagonista de “Lembro Mais dos Corvos”, de Gustavo Vinagre. Emocionada, ela dedicou o troféu a todas as mulheres que lutam por seu espaço na vida e no trabalho.
“Queria agradecer o prêmio, que para mim não é só um prêmio, mas um estímulo e um gesto de amor para comigo e para com todas as mulheres trans, as travestis, as mulheres cis também, porque somos todas mulheres, todas uma só. E eu quero que nos próximos anos as trans estejam mais presentes aqui no Festival, e que vocês entendam que nosso papel aqui não é de disputa, é de busca pela igualdade”, disse, sob aplausos.

Outros prêmios. Pela Mostra Foco, o júri da crítica escolheu o curta-metragem “Calma”, produção do Rio de Janeiro dirigida por Rafael Simões. O Prêmio Aquisição Canal Brasil, que oferece R$ 15 mil a um curta também da Foco, foi para “Estamos Todos Aqui” (SP), de Chico Santos e Rafael Mellim. Na Mostra Olhos Livres, o júri jovem escolheu o filme paulista “Inaudito”, de Gregorio Gananian. O diretor agradeceu o reconhecimento especialmente ao músico Lanny Gordin, que ele documenta no filme, apontando-o como um nome de vanguarda na produção musical brasileira. O júri popular escolheu o curta-metragem mineiro “A Retirada para um Coração Bruto”, de Marco Antônio Pereira, e o longa “Escolas em Luta”, documentário paulista de Eduardo Consonni, Rodrigo T. Marques e Tiago Tambelli. (com Daniel Oliveira).
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