sexta-feira, 6 de maio de 2016

Dedicação do elenco é o forte de filme sobre psiquiatra

O Tempo
“NISE – O CORAÇÃO DA LOUCURA”
PUBLICADO EM 06/05/16 - 03h00
“Nise – O Coração da Loucura”, de Roberto Berliner, conta a história de Nise da Silveira (Glória Pires), psiquiatra contrária às práticas da lobotomia e do choque elétrico que estavam sendo introduzidas no Brasil no início dos anos 1940.
Relegada a cuidar de uma ala terapêutica com baixíssimo orçamento no Centro Psiquiátrico de Engenho de Dentro, Nise conseguiu desenvolver ali a terapia pela arte. Em pouco tempo, notou que os pacientes (ou melhor, os clientes, segundo o conceito que defendia) eram dotadas de uma rica visão interior, que lhes permitia expressar medos e angústias por meio de quadros ou esculturas.
Foi o que achou também o grande crítico da época, Mário Pedrosa, que lutou para ajudar Nise a convencer a opinião pública de que o trabalho que ela fazia não deveria ser interrompido por políticas irresponsáveis.
História nobre, portanto, o que é sempre um perigo. Nesses casos, normalmente a direção se importa muito mais em passar a mensagem edificante do que em pensar esteticamente, ou seja, fazer arte. Encontramos um pouco disso aqui. A câmera por vezes parece filmar qualquer coisa, de qualquer jeito. Adota também um estilo contemporâneo já desgastado, em que as imagens se revelam aos poucos, após um tempo fora de foco.
Mas Berliner compensa com um olhar que preserva a dignidade dos internos, do mais violento dos enfermeiros e até do crítico de arte, figura normalmente retratada com antipatia. E a dignidade humana não é fácil de ser representada, pois há sempre os riscos da condescendência e da chantagem emocional. Aqui, felizmente, esses riscos foram ultrapassados. Graças também à dedicação de todo o elenco.
O Tempo

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