terça-feira, 17 de maio de 2016

Inadimplência bate recorde em contas de água, gás e luz

As dívidas dos brasileiros em atraso nas contas das despesas essenciais somaram R$ 239 milhões em março, segundo levantamento da Serasa Experian. As contas de água, luz e gás, chamadas de utilities, representaram 17,9% do total, o maior nível já alcançado por esse tipo de despesa desde o início da pesquisa, em junho de 2014. Um ano antes, em março de 2015, o percentual era de 15,1%.

Com inflação e desemprego em alta, os consumidores estão fazendo uma espécie de rodízio para pagar as contas. “Eu vou alternando o pagamento. Estou com as contas de água e luz atrasadas”, contou a auxiliar de cozinha Geralda Evangélia Natividade.

Para ela, neste ano, está mais difícil manter as contas em dia, já que a inflação está corroendo a renda. “Até o ano passado, eu conseguia pagar em dia as contas básicas. Em 2016 está pior”, disse. Ela já chegou a atrasar o pagamento em até 30 dias. O técnico de mecânica Hugo Damasceno usa a mesma estratégia de Geralda. “Eu pago uma conta vencida e já chega outra”, conta.

Ele diz que ainda está com a conta de energia em atraso. O motivo para o desequilíbrio nas finanças foi o desemprego da esposa durante sete meses. “Com isso, a renda da família caiu 50%. Ela conseguiu emprego há três meses. Só que leva tempo para colocar as contas em dia, acho que vai demorar uns seis meses para organizar as finanças. Estamos nos esforçando para isso”, revelou.

A maior preocupação de Damasceno é o financiamento imobiliário. “É a nossa prioridade”, disse. Para o economista da Serasa Experian Luiz Rabi, o crescimento da participação de utilities no ranking da inadimplência denota o agravamento da crise, uma vez que os consumidores tendem a manter esses pagamentos em dia para não terem o fornecimento interrompido.

Cartão. Apesar do incremento desse segmento, as empresas que mais sofrem com calotes, no entanto, continuam sendo os bancos e as operadoras de cartão de crédito. Em março, os dois segmentos representavam 27,2% das dívidas em atraso, também acima do nível de um ano atrás: 26,9%. O novo patamar, porém, está abaixo do recorde atingido na primeira edição da pesquisa, de 31,6%.

A inadimplência também bateu recorde no segmento de serviços, com participação de 11,4% em março deste ano. Em igual mês do ano passado, era de 11,2%.

O economista afirma que os mais afetados com a situação econômica atual são aqueles que vivem daquilo que recebem e não fazem nenhum tipo de reserva ou poupança financeira. “Ao perderem o emprego, essas pessoas não conseguem honrar os compromissos financeiros e caem na inadimplência”, explica. (Com agências)

Em BH

Fecomércio. O número de consumidores inadimplentes em Belo Horizonte caiu nos últimos dois meses. Segundo a Fecomércio/MG, o índice
de inadimplência, que compreende o percentual de consumidores com dívidas em atraso há mais de 90 dias, chegou aos 9,3% no mês de abril, 2,3 pontos percentuais a menos do que o registrado em fevereiro (11,6%).

Endividados já somam 60 milhões 

O número de inadimplentes – que considera atrasos de ao menos 30 dias – no país chegou a 60 milhões de pessoas, equivalente a 40% da população economicamente ativa. Foi um recorde desde que a Serasa Experian passou a fazer o levantamento, em 2012.

Os dados são da pesquisa “Inadimplência do Consumidor do Brasil”. No ano passado, o número de consumidores com compromissos financeiros em atraso era de 55 milhões.

Perfil. Conforme a pesquisa, do total, 77,2% dos brasileiros inadimplentes ganham até dois salários mínimos por mês. O maior grupo de devedores, cerca de 29% do total, é jovem de até 30 anos e morador de periferia.

O segundo maior contingente é de trabalhadores urbanos, que representam 18% do total, seguido dos donos de negócios, com 9%.

A maior parte das dívidas é relativa a bancos e cartões de crédito, com uma fatia de 27,2%. (JG)

Guia ajuda a fazer um planejamento

A Terceira Semana Nacional de Educação Financeira – que acontece de 16 a 22 de maio – tem a participação da Proteste Associação de Consumidores. A entidade está reforçando a divulgação de seu Guia do Endividado, que pode ser baixado gratuitamente no site da entidade (http://bit.ly/1Ow7WW0).

A publicação online da traz orientações para adequar o orçamento às dificuldades enfrentadas. O guia traz dicas sobre portabilidade de dívidas, conta corrente, reserva para emergência, renegociação de dívida, seguro desemprego, etc. (JG)

Saiba mais

* O alerta do endividamento, segundo a Proteste, deve ser acionado quando se tem 30% do orçamento comprometido com dívidas.

* Quando o endividamento passar de 50% é preciso mudar o estilo de vida para reverter a situação.

* O superendividado é aquele que tem 100% ou mais de sua renda comprometida com as dívidas.
O Tempo

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