terça-feira, 17 de julho de 2018

Curta viagem ao centro do cérebro


*Amadeu Garrido de Paula

Ítalo Calvino nos premia com sintética avaliação da obra "Longa viagem ao centro do cérebro",  do neuropsiquiatria Renato Balbi e sua irmã, jornalista de cultura,  lançada pelos autores italianos nos idos de 1981 ("Mundo escrito e não escrito", 2002).

Galgamos a escada da vida em estágios cerebrais, racionais, emocionais, intuitivos etc, até o número 21.

O 4 se formou na vida fetal. O 5 faz-nos mover sem direção. Salta-se ao 8, somos nadadores e trepadores. Os anteriores 6 e 7 nos deram o instinto da sucção, leite, cervejas etc. E  de regular nossa hipotermia. O 9 é o prazer. O 11 nos faz agressivos. No 12 desejamos um objeto desconhecido, por abstração. O 14 nos faz invejosos (dos que se encontram em nossa frente numa fila de banco, por exemplo). O 15 foi o responsável pelo "homo erectus". O 16 nos fez intuitivos. O 17 nos proporcionou consciência individual e social ("homo sapiens").  O 18 corresponde aos "ídolos da tribo" de Francis Bacon (oh mídia, que subliminarmente fez os brasileiros sonhar com nova conquista da copa do mundo...). A crítica, a razão, o controle da ansiedade, no nível 20. E o 21, nosso estágio contemporâneo.

Como se vê, não há sequência rigorosa e são admissíveis inversões ou derrapadas na escalada. E antes do 4, no útero materno?  A palavra com Shopenhauer.

Tudo muito lógico, mas no Brasil só temos traduções de outra obra cujo título é extremamente similar (na origem, "Voyage extraordinaire au centre du cervau", do igualmente neuropsiquiatra e premiadíssimo francês Jean-Didier Vicent, 2007). Vinte e seis anos depois.

Não se cogite de plágio, mas do "fio de Ariadne", que interconexa a cultura humana, até pela diversidade dos textos, reflexos de seus tempos. Melhor os aplausos a essas ousadas e competentes aventuras pela dinâmica íntima do animal e do  humano. 

O melhor seria, porém, exatamente por isso, predizer que essa "extraordinária" viagem condiz com um magnífico trem, ainda recolhendo passageiros em suas primeiras estações. Uma  "curta" viagem.

Amadeu Garrido de Paulaé Advogado, sócio do Escritório Garrido de Paula Advogados.

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