O TEMPO
Sandra Starling
PUBLICADO EM 04/07/18 - 03h00
Assistindo ao programa “Seleção SporTV”, vibrei quando, celebrando-se os 60 anos da conquista da Copa do Mundo na Suécia, foi proposto que a CBF e nossos clubes motivassem seus jogadores a conhecer um pouco mais de história, nem que fosse a do próprio futebol. Poderia haver muito mais garra se a equipe canarinho tivesse mais consciência de tradição e pertencimento nacional.
Fico irritada ao ver nossos jogadores descerem dos ônibus, frente a um hotel ou estádio. Todos estão com seus fones de ouvido e celulares. Nenhum se entretém com um livro ou e-book às mãos. Tostão (Gabriel Jesus já ouviu falar dele?), em suas memórias, relata que era considerado uma espécie exótica nas concentrações, simplesmente porque sempre estava a ler algo.
Tenho a convicção de que seríamos imbatíveis se, ao lado da técnica e da criatividade, nossos jogadores se dedicassem a saber mais sobre Charles Müller, Friedenreich ou Leônidas, o Diamante Negro. Se soubessem da glória e tragédia na vida de Heleno de Freitas. Se aprendessem com a derrota de 1950 e se interessassem sobre o destino de Barbosa. Se respondessem de bate-pronto quem infernizou nossa vida em 1954 e que peça a caixinha de surpresas, logo após, lhe reservaria em Berna. Saberiam que o fantástico time do Bayern, que enfrentou o Cruzeiro no Mineirão em 1977, fora a base da seleção de 1974, quando os alemães, regidos por Franz Beckenbauer, conseguiram parar o espetacular Carrossel Mágico, ou Laranja Mecânica, de Johan Cruyff. E de quebra: descobririam por que Cruyff se recusou a jogar na Argentina em 1978. Entenderiam, enfim, por que os mais velhos falam tanto de Telê Santana em 1982.
Nas crônicas de Nelson Rodrigues, Armando Nogueira, João Saldanha (o criador das “feras” de 1970), Juca Kfouri, Xico Sá ou de meu saudoso amigo Roberto Drummond e tantos outros escondem-se verdadeiros tesouros sobre vitórias e fracassos, a mostrar a vida como ela é. Nos belos textos de Tostão, verdadeiras aulas de tática de quem entende do riscado. Pode ser que tomar gosto pelas leituras seja mesmo penoso. Que, então, sejam os jogadores levados a assistir a documentários que expliquem o que distingue o grande jogador do craque. Tarefas obrigatórias: acompanhar os videotapes de nossos jogos em Copas do Mundo, desde 1970 até nossa debacle em 2014. Devorar tudo que puderem sobre nossos gênios de 1958, 1962, 1970, 1994 e 2002, e, ainda, reservar espaço para a Inglaterra de 1966, Eusébio ou Maradona.
Enquanto escrevo, fico sabendo que o “maestro” Oscar Tabárez, ao tempo em que treinava a bela Celeste para o jogo contra Portugal, prestou seu apoio aos estudantes uruguaios na luta por mais verbas para a educação. Na ocasião, afirmou: “Não ajuda ser campeão do mundo se os nossos jovens não sabem onde é a Rússia, ou não sabem por que, na seleção francesa, há tantos jogadores nascidos na África ou com pais africanos. Não ajuda sermos campeões se nossos jovens não transmitirem a eles aquilo que eles valorizam e acreditarem que têm um futuro promissor”. Viva Nilton Santos! Viva Oscar Tabárez!
O Tempo
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