quarta-feira, 18 de julho de 2018

O homem brasileiro e a humanidade


*Amadeu Garrido de Paula

Somos nosso "eu" e somos todos, disseram muitos conhecedores d'alma, especialmente o americano Walt Withman.

Ao testemunharmos um homem a fazer o bem, cremos na humanidade e no futuro.

Em plano oposto, ao sabermos de um ato de corrupção, lançamos às masmorras ínferas o acusado (ainda que não esteja condenado) e, inconscientemente, o humano como um todo, porque aquele agente é, como todos nós, um lídimo representante do que possa ser chamado de humanidade. Esta se expressou por meio de um execrável delinquente, manifestou-se em um de seus atributos mais desprezíveis.

Frustramos e deprimimo-nos, contrariamente à alegria da união dos povos que possa vir de um congraçamento esportivo das nações, como a recente copa do mundo.

O ato maligno é próprio de nosso universo de seres dotado de razão e pensamento, voltados para a obscuridade numa noite unânime, sem lua e estrelas, sob uma terrível tempestade e incêndios que lançavam claros rubros aqui e acolá. A noite da Casa de Ulster.

E, diuturnamente, os brasileiros têm passado por essa agrura do desabamento das crenças na vida. Os noticiários são compostos não de melhoramentos para o País, mas de acusações e punições de muita gente que meteu a mão - ou não - mas a presunção já se inverteu, no dinheiro público, em detrimento dos doentes, dos analfabetos sob vários aspectos, da sensação de absoluta impotência.

O pessimismo da decadência demencial instiga a declaração de que é assim mesmo; deixemos todos as nossas esperanças às portas dos buracos negros do inferno, como disse Dante, porque, se fossem outros os representantes, também meteriam a mão e tudo não seria de outro modo. 

Se fosse facultativo nosso voto, a última lembrança dos brasileiros deste terrível momento de nossa história estaria na vaziedade das urnas.

Sabe-se, porém, que a forma representativa é o único modo de gerir a coisa pública num País como o Brasil. Mais uma vez, devemos lembrar do gênio de Poe, cujo personagem, já irreversivelmente desesperado, estava com meio corpo no poço de suplícios de sua masmorra, onde ratos repelentes o aguardavam, quando o braço salvador do general francês Lassale o içou do mais triste sofrimento passível de ser imposto a um homem.

A "Santa" Inquisição houvera sido derrotada. Não teremos nenhum Lassale, nenhum salvador da pátria, mas devemos crer que nosso País não tem o destino implacável da dissolução. Nossos milhões de habitantes saberão retomar o fôlego da esperança e da reconstrução, num clima de liberdade e sabedoria.

Amadeu Garrido de Paulaé Advogado, sócio do Escritório Garrido de Paula Advogados.

Esse texto está livre para publicação.

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