sábado, 7 de julho de 2018

Livros revisitam Guignard

Convidado pelo prefeito Juscelino Kubitschek (1902-1976), o pintor Alberto da Veiga Guignard (1896-1962) saiu do Rio de Janeiro e veio para Belo Horizonte, em 1944. Na capital mineira, começou a dar aulas de pintura e desenho. Mas, antes disso, por volta de 1941, conheceu Ouro Preto e lá produziu alguns desenhos que hoje comprovam suas primeiras incursões, praticamente anônimas, pela cidade barroca.
“Passos de Guignard em Ouro Preto”, livro organizado por Gélcio Fortes – coordenador do Museu Casa Guignard –, detalha informações e desfia memórias em torno da passagem do pintor pela cidade que marcou profundamente sua obra. Além desse título publicado agora em dois volumes, outras duas biografias de Guignard estão sendo produzidas por jornalistas mineiros. A primeira, de João Perdigão, deve sair em 2019 pela editora Autêntica. Já a segunda, de Marcelo Bertoloti, deverá ser finalizada em 2020 e ser lançada pela Companhia das Letras.
De acordo com Fortes, que há 25 anos coordena o Museu Casa Guignard, “Passos de Guignard em Ouro Preto” consolida mais de duas décadas de pesquisas. “Quando cheguei em Ouro Preto, percebi que a memória de Guignard ainda estava viva, e as pessoas que conviveram com ele já estavam em uma idade avançada. Então, senti que havia a necessidade de documentar tudo que se relacionava à estadia dele na cidade”, conta.
Na feitura do livro, que reúne depoimentos e uma série de fotografias de Guignard produzida pelo fotógrafo Luiz Alfredo para a revista “O Cruzeiro”, Fortes revisitou 18 entrevistas de personagens ouro-pretanos. Entre eles, um estudante que recebia Guignard em sua república – como são conhecidas as residências coletivas dos estudantes –, a faxineira que cuidava da limpeza do quarto do pintor, e Gracinda, viúva de Rodrigo Toffolo, um dos proprietários do bar Toffolo frequentado por Guignard. Também conversou com Vandico, um conhecido pintor de Ouro Preto.
Fortes diz que há várias “lendas” em torno do pintor. Boa parte está ligada ao comportamento boêmio de Guignard – o que, de acordo com Perdigão, não é apenas boato, mas algo pertinente. “Guignard nunca teve casa, e o bar era o lugar que ele mais gostava. Lá, além de se sentir menos solitário, ele se sentia uma pessoa querida. Por mais que os outros pudessem vê-lo apenas como um bêbado”, conta o jornalista.
Fortes recorda que Guignard morreu sem habitar a casa comprada por ele em Ouro Preto, pois ela estava em reforma. “Ele a comprou depois de ter assinado um contrato de exclusividade com a Petite Galerie, no Rio de Janeiro, mas nunca chegou a viver nela. O Museu Casa Guignard foi pensado para dar à Guignard a casa que ele sonhou ter em Ouro Preto”.
Mercado das artes. Em sua biografia, João Perdigão pretende abordar a relação do artista com as seis principais cidades onde viveu: Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Ouro Preto, Munique (Alemanha), Florença (Itália) e Paris (França). Outro aspecto que pretende destacar é a relação do pintor com o mercado de arte, que, segundo ele, era complexa. “Guignard teve uma vida triste e difícil, comparável a de Van Gogh (1853-1890). Não que ele tenha sido tão desvalorizado em vida como Van Gogh foi, mas como ele morou em Belo Horizonte, cidade em que o mercado de arte era muito incipiente, ele teve muita dificuldade em se inserir e ser respeitado”, frisa Perdigão.
Atualmente, a obra de Guignard não só é uma das mais valorizadas, como bate recordes em leilões. Em 2015, a tela “Vaso de Flores” (1930) foi arrematada por R$ 5,7 milhões em São Paulo, sendo a obra mais cara de um artista brasileiro já leiloada.

 

Uma história de vida muito interessante


Para Marcelo Bertoloti, as biografias sobre Guignard podem fazer com que um público maior possa ter contato com sua arte e sa trajetória. "A vida dele ainda é pouco explorada e há muitas informações incompletas. Guignard passou um tempo de sua vida na Europa, o que dificultou o acesso a alguns documentos. E a minha ideia é oferecer uma compreensão melhor da trajetória dele, que além de ter uma obra bastante valorizada no mercado, também tem uma história de vida muito interessante”, diz.
O Tempo

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