domingo, 21 de fevereiro de 2016

As Sete Penas do Amor Errante

Eu não sei se os teus olhos se gaivotas 

mas era o mar e a Índia já perdida 
as ilhas e o azul o longe e as rotas 
minha vida em pedaços repartida. 

Eu não sei se o teu rosto se um navio 
mas era o Tejo a mágoa a brisa o cais 
meu amor a partir-se à beira-rio 
em uma nau chamada nunca mais. 

Eu não sei se os teus dedos se as amarras 
mas era algo que partia e que 
ficava. Ou talvez cordas de guitarras 
ó meu amor de embarque desembarque. 

Eu não sei se era amor ou se loucura 
mas era ainda o verbo descobrir 
ó meu amor de risco e de aventura 
não sei se Ceuta ou Alcácer Quibir. 

Eu não sei se era perto se distante 
mas era ainda o mar desconhecido 
ou Camões a penar por Violante 
as sete penas do amor proibido. 

Eu não sei se ventura se castigo 
mas era ainda o sangue e a memória 
talvez o último cantar de amigo 
amor de perdição amor de glória. 

Eu não sei se teu corpo se meu chão 
mas era ainda a terra e o mar. E em cada 
teu gesto a grande peregrinação 
das sete penas do amor lusíada. 

Manuel Alegre, in "Atlântico" 

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