quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

Cursos de educação cívica deixam refugiados atônitos na Alemanha

"Quem conhece pessoas de confissão judaica? Você pode bater nas crianças? Permitiria que sua irmã ou filha se case com quem quiser?", a Alemanha tenta impor seus valores aos migrantes, mas alguns ficam perplexos.
O ministro bávaro de Justiça, Winfried Bausback, multiplica as perguntas frente a sessenta solicitantes de asilo que participam de forma voluntária de um curso de educação cívica em Bayernkaserne, um dos maiores centros de acolhida de Munique (sul).
No pequeno ginásio transformado em sala, um intérprete traduz do alemão para o inglês. Poucos respondem. "Pode repetir a pergunta?", diz um deles em um inglês titubeante.
Outros têm o olhar perdido, como se não acompanhassem a conversação.
O governo da Baviera, porta de entrada na Alemanha de migrantes procedentes da "rota dos Bálcãs", instaurou cursos de educação cívica, ministrados normalmente por professores. Ao longo do ano já houve 12.
"Ensinamos as regras de convivência, a democracia, a igualdade entre homens e mulheres", descreve Reinhard Nemetz, presidente de um tribunal de Munique, encarregado de recrutar os juízes.
Mas, completa, "lhes recomendamos que não têm apenas deveres, mas também direitos: a liberdade de religião e pensamento, por exemplo". Os cursos são acompanhados de folhetos e vídeos curtos colocados na internet.
'Como se fosse algo novo'
Sentado na primeira fila, Zedan Mohamad veio para matar o tédio. Além das duas horas diárias de aulas de alemão, não tem nada para fazer. Este refugiado sírio de 18 anos ficou atônito diante das perguntas do ministro.
"Todo mundo conhece as regras! Sei muito bem que não devo roubar, nem ser violento, era igual na Síria", protesta. "Mas aqui nos falam como se fosse algo novo para nós. E esta forma de nos dizer..."
Ao seu lado, Johnny Basola, um congolês de 28 anos, sente-se menosprezado com relação aos refugiados considerados prioritários.
"No começo perguntaram 'de onde você vem? Da Síria, da Eritreia, do Iraque, do Afeganistão? Nem sequer se preocuparam da presença de outras nacionalidades. Nos ensinam regras, mas também nos demonstram desde o início que não serão as mesmas para todos", critica.
Sajhid Salle Koroma, de 25 anos, um migrante de Serra Leoa, se interessa pela segunda parte do curso, na qual uma professora descreve as bases do direito alemão. "Aprendemos o que se pode fazer e o que não se pode fazer, as penas aplicadas a qual delito. Me parece útil", declara.
As autoridade dão ainda mais importância a estes cursos desde as agressões sexuais em massa contra mulheres no Ano Novo em Colônia, atribuídas em sua maioria pela polícia a migrantes do norte da África.
Habib Amiri, de 25 anos, um jornalista afegão refugiado na Alemanha, considera que estes cursos não são prioritários. "Mas valeria abrir mais vagas para aulas de alemão", sugere. O idioma é fundamental para encontrar um emprego e integrar-se".
Zedan Mohamad também tem suas dúvidas: "Me parece que ensinam as regras para viver em sociedade. Mas então não teriam também que dar cursos de vida em sociedade àquelas que queimam nos centros de acolhida de refugiados?".
Depois do recente incêndio de um centro na Saxônia entre aplausos de transeuntes, o jornal de esquerda TAZ lhe deu a razão com um título irônico na capa sobre os xenófobos alemães: "Integração arruinada".
O Tempo

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