segunda-feira, 5 de junho de 2017

Descarte incorreto de lixo eletrônico causa danos graves

“Só peço a você um favor, se puder: não me esqueça num canto qualquer”. Enquanto essa letra, composta por Toquinho, embalou gerações ao trazer à tona os sentimentos de um caderno que poderia ser abandonado sem a menor cerimônia, muitas transformações aconteceram no país: os aparelhos eletrônicos se fizeram cada vez mais presentes no dia a dia das pessoas e levaram o Brasil à conquista de um título nada glorioso, que é o de maior produtor de lixo eletrônico da América Latina, segundo um estudo realizado pela Associação de Empresas da Indústria Móvel e pela Universidade das Nações Unidas.
Hoje, os “fiéis amigos”, que estão sendo deixados de lado, muitas vezes sem a menor preocupação a respeito do seu destino, são os celulares, os computadores, entre outros aparelhos eletrônicos. A situação é preocupante quando se pensa nas consequências desse cenário para o meio ambiente.
Conforme destaca Luciano Emerich, professor de Engenharia Química do Centro Universitário Newton Paiva, a composição de um computador conta com metais tóxicos como o chumbo, o mercúrio e o cádmio. Quando descartados de maneira incorreta, eles provocam uma reação em cadeia, que pode prejudicar diferentes tipos de seres vivos.
“Se você joga um objeto como esse próximo a um rio, por exemplo, os elementos que os compõem vão, aos poucos, se oxidando e sendo absorvidos. Eles podem entrar em contato com os peixes, que são consumidos por vários seres humanos. Situação semelhante acontece quando se realiza o descarte em locais próximos às plantas”, salienta ele.
Além disso, também não é incomum que muitos indivíduos coloquem fogo nesses objetos, seja para tentar separar determinados metais ou mesmo para dar algum fim a eles. E é aí que acontecem mais problemas, uma vez que as pessoas passam a respirar o resultado dessa queima, conforme lembra Hiram Sartori, engenheiro sanitarista e professor da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (Puc Minas) e da Universidade Fumec.
“Além da degradação direta do meio ambiente, existe, ainda, a questão do desperdício. Cada vez que uma pessoa se desfaz, de forma incorreta, de materiais como esses, que muitas vezes são caros, eles saem da cadeia produtiva. O que pode acabar acontecendo em longo prazo é até mesmo a extinção desses itens. Os danos são inúmeros”, pontua Sartori.
O que fazer. Diante desse cenário, é de grande importância que existam informações e consciência a respeito do destino dos eletrônicos. E há casos de empresas especializadas que ajudam nessa tarefa, inclusive buscando o lixo eletrônico na residência das pessoas, sem que haja custos. A Emile, localizada em Betim, na região metropolitana de Belo Horizonte, é uma delas.
Conforme afirma Ricardo Newton, gerente de negócios da organização, cerca de 96% dos materiais presentes em um computador ou em um celular, por exemplo, podem ser reciclados. Sendo assim, depois do recolhimento que é realizado pelo local, os aparelhos são desmanchados, as peças separadas e, posteriormente, encaminhadas para lugares em que elas serão úteis, como nas indústrias.
“Acredito que muitas pessoas estão mais conscientes e procuram saber a respeito do assunto. Nós temos tido uma repercussão bem grande. Há quem já tenha descartado lixo eletrônico conosco por várias vezes”, afirma Newton.


COLETOR

Transformação gera energia

Após não estarem mais úteis para o uso comum, os componentes dos computadores podem ter funcionalidades bastante distintas e serem utilizados de diferentes formas. A parte plástica deles, por exemplo, pode ser transformada em coletores de energia solar, conforme mostra o Projeto Polímeros para a Inclusão Social (Própolis).
A iniciativa faz parte de uma parceria entre o Centro Universitário Una, a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), o Centro Universitário de Belo Horizonte (UniBH), a Instituição Social Ramacrisma e o Comitê para Democratização da Informática (CDI), com o financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig) e da Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig).
Conforme destaca Elizabeth Pereira, professora do Centro Universitário Una e coordenadora geral do projeto, como indicam os testes que foram realizados, esses coletores, quando feitos com material reciclado, possuem a mesma qualidade daqueles que não são fabricados dessa maneira. “A ideia tem sido muito bem aceita e já existe, inclusive, o interesse de pessoas de outros Estados pelos produtos”, diz.

Além dos benefícios para o meio ambiente, há as vantagens que incluirão, ainda, a economia de 30% na conta de luz dos indivíduos que utilizarem o coletor. Além disso, o produto será comercializado com um valor menor do que aquele que é encontrado hoje no mercado. “Vamos dar um fim bem nobre ao que era lixo”, afirma a profissional.
O Tempo

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