sexta-feira, 16 de junho de 2017

Para FHC, antecipar eleições seria 'gesto de grandeza'

O TEMPO

CRISE SEM FIM

Ex-presidente afirma que falta “legitimidade” a Michel Temer para conduzir o governo


PUBLICADO EM 15/06/17 - 21h31





SÃO PAULO. Com o PSDB rachado e sob o risco de não ser uma alternativa eleitoral competitiva para 2018, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso defende agora que um gesto de grandeza do presidente Michel Temer (PMDB) seria pedir antecipação de eleições gerais. A posição de FH consta em uma nota encaminhada ao jornal “O Globo” nesta quinta-feira (15).

No texto, que também foi enviado à agência Lupa, FHC começa dizendo que sua percepção sobre a situação política do Brasil tem sofrido “abalos fortes”. Para ele, falta “legitimidade” a Temer para governar e o país vive um tipo de “anomia” (falta de regras, desorganização). Diante desse cenário, o ex-presidente diz ter mudado de opinião de que seria um golpe a convocação de eleições antes do término do mandato de Temer, em 2018.

“A ordem vigente é legal e constitucional (daí ter mencionado como ‘golpe’ uma antecipação eleitoral), mas não havendo aceitação generalizada de sua validade, ou há um gesto de grandeza por parte de quem legalmente detém o poder pedindo antecipação de eleições gerais, ou o poder se erode de tal forma que as ruas pedirão a ruptura da regra vigente exigindo antecipação do voto”, escreveu o tucano na nota.

A tese de eleições antecipadas para interromper o governo Temer é bandeira dos partidos de esquerda, liderados pelo PT. Essa possibilidade não havia encontrado abrigo no PSDB até então, inclusive FHC se manifestou anteriormente classificando-a como golpe.

Para que haja eleições antecipadas, é preciso alterar a Constituição por meio de uma proposta de emenda constitucional no Congresso (PEC). FHC disse que não é possível saber se a medida seria capaz de manter Temer no poder até a aprovação de uma PEC.

“A volatilidade da conjuntura política é de tal ordem que qualquer prognóstico se torna precário. Vivemos, como diria o dr. Ulysses (Guimarães), sob os impulsos de sua excelência O Fato”, afirmou.

O tucano também defendeu que uma eventual antecipação das eleições gerais de 2018 seja precedida de mudanças na legislação eleitoral. Mas não mencionou qual seriam elas.

“Não obstante e ainda mais por isso, devemos obedecer estritamente a Constituição. Novas eleições requerem emenda constitucional que, a meu ver, deveria ser antecedida por mudanças na legislação eleitoral. Portanto, tudo ocorreria mais facilmente com a anuência do presidente”.

O novo posicionamento do ex-presidente surge na mesma semana em que o PSDB sofreu outro desgaste político ao decidir que continuará no governo Temer, apesar de parte do partido pressionar pelo desembarque do governo.

A decisão expôs um racha na legenda. O ex-ministro de FHC Miguel Reale Junior, autor o pedido de impeachment de Dilma Rousseff, anunciou sua desfiliação, acusando o PSDB de estar se “peemedebizando”.
Trechos
“A responsabilidade maior é a do presidente que decidirá se ainda tem forças para resistir e atuar em prol do país.”

“Se tudo continuar como está com a desconstrução continua da autoridade, pior ainda se houver tentativas de embaraçar as investigações em curso, não vejo mais como o PSDB possa continuar no governo.”

“Preferiria atravessar a pinguela, mas se ela continuar quebrando, será melhor atravessar o rio a nado e devolver a legitimação da ordem à soberania popular.”

FHC


‘Se pinguela quebrar, vamos a nado’

No fim do ano passado, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso comparou o governo do presidente Michel Temer a uma “pinguela” – uma ponte estreita e instável. Naquela época, parecia disposto a atravessá-la. Agora, no entanto, o tucano mudou o discurso.

“Preferiria atravessar a pinguela, mas, se ela continuar quebrando, será melhor atravessar o rio a nado e devolver a legitimação da ordem à soberania popular”, disse, em nota à Agência Lupa e ao jornal “O Globo”.

Na última segunda-feira, a Executiva Nacional do PSDB se reuniu e decidiu permanecer no Planalto.

O ex-presidente, que não participou do encontro, revelou posicionamento diferente: “Se tudo continuar como está, com a desconstrução contínua da autoridade (de Temer), pior ainda se houver tentativas de embaraçar as investigações em curso, não vejo mais como o PSDB possa continuar”, disse FHC.
Semelhança. Em agosto de 2015, após uma manifestação contra o governo da então presidente Dilma Rousseff (PT), FHC disse que ela teria um “gesto de grandeza” se renunciasse ao cargo.
O Tempo

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