quinta-feira, 21 de dezembro de 2017

O que pensar para sobreviver nosso povo?

Amadeu Garrido de Paula

"Um momento chega em que, alterado insensivelmente o tecido de
uma sociedade, sob doença infeciosa que se tornou uma septicemia
moral, ela não pode viver: desmorona-se". (Gabriel Marcel, "Os homens
contra o homem", Porto, p. 29).

Precisamente o contrário do governo, dos empresários materialistas, dos sindicatos interesseiros e inautênticos, dos que criaram a jovial palavra "empoderamento" para significar poder, riqueza e coisas do ramo.

O problema brasileiro é um problema de espírito. O espírito do homem é o da autorreflexão, do transcendentalismo humanista, do questionamento sobre um ser divino, do incomensurável universo, do amor crítico.

Somente viveremos razoavelmente entre nós - antes de tudo, humanos espiritualizados - se reconhecermos quanto o materialismo desserviu à causa do homem no cosmos. Se percebermos que somos mais, e não dependemos da propriedade, do excesso de alegrias materiais episódicas, do poder de comandar outros seres que são como nós, ou melhores, de que seremos respeitados unicamente de acordo com as nossas posses, nossos automóveis, nossas mansões.

E possível que alguém tenha tudo isso e seu pensar seja profundamente espiritual. São, todos sabem, raros; Mas aonde vão os outros? O destino não é o mesmo e, enquanto esse não se completar,  nos resta a felicidade de ser temporariamente, não a de ter?

Somos matéria e energia e a primeira não é nada sem a segunda. Já a energia, que não se corrompe, que não se deteriora, que não se estingue e decompõe, porque não é simplesmente massa, por um momento, no mundo minúsculo  e subatômico de suas intervenções, colapsa-se em eventos materiais, como nosso corpo. Desfeito esse, a energia retoma sua liberdade originária e prossegue em sua saga divina no universo que não terá fim.

Equivocaram-se todos os pensadores que se voltaram à matéria, dona e senhora exclusiva do mundo. Traçaram seu caminho finito, breve ou longo. Simularam, ludibriaram, castigaram, exploraram, protestaram, formaram facções, partidos, litigaram, processaram, criaram planejadamente campos de concentração e aviltamento do humano, uma falsa ideologia sobre todos esses valores, para, cedo ou tarde, imergir no desconhecido.

A única proposta que alguns ainda levam a sério no Brasil de hoje é o desenvolvimento econômico. Riem do desenvolvimento do espírito e da moral. Só aquele criará riquezas, empregos etc. Apenas uma sociedade em que 1% domina a maioria das riquezas tem desempregados aos milhões como no Brasil. Estes reagem, obviamente. Direita e esquerda automáticas, ambas conservadoras de teorias capengas, como são todas as econômicas. Se não o fossem, o mundo não estaria nesse estado. Direita e esquerda são exclusivamente patrimonialistas; daí o engano em que nos encontramos, discutimos diariamente e não vemos saída.

Somente as crenças filosóficas e teológicas sedimentados ao longo de nosso ligeiro curso sobre esse planeta farão que nos humanizemos; progressivamente as dores, inclusive as econômicas, desaparecerão. Não, diz o deus mercado e seus adeptos, que, sei bem, ridicularizarão este artigo. Falam em educação; mas existe tão-somente educação, formação, autodomínio, de pessoas. Não se educam massas; adestram-se-nas, caminharão como uma manada de búfalos e morrerão por colisões diárias, guerras, depauperamento, no ardor da matéria incandescente. O bom presidente é o ex-ministro da fazenda... Já vimos a história. "ora entre nós finge-se acreditar no postulado de que desenvolvimento, emprego e igualdade marcham paralelamente; mas já ninguém o crê, e só por motivos táticos, bem fáceis de discernir, se perpetua esta mentira" (Gabriel Marcel, filósofo francês).

Se temos oportunidade em 2018, atribuamos nossos votos ao espírito, não às vísceras, para iniciar um novo Brasil. Não me perguntem, até porque só desconfio pela beira,  nome ou os nomes. Fica a exortação para que as únicas duas igrejas sérias em nosso país - a católica e sua legítima dissidência - possam nos ser importantes guias, seja pelas Escrituras, Lucas, Matheus, seja por Lutero e Calvino.

Amadeu Garrido de Paulaé Advogado, sócio do Escritório Garrido de Paula Advogados.

Esse texto está livre para publicação.

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