sexta-feira, 10 de março de 2017

O dia a dia do homem e do brasileiro

Amadeu Roberto Garrido de Paula

Somos homo sapiens puros ou mesclados com neandhertais. A ciência ainda não deu sua última palavra. Pouco importa.  
O fato é que o homem, no cotidiano, é triste. Basta ver a ansiedade com que espera os fins de semana e as episódicas viagens de passeio. O problema é que a maioria não se realiza em seu trabalho. 
Ressalvada a minoria de criativos (literatos, cientistas, parte dos profissionais liberais etc), a maioria, desde cedo, se insere melancolicamente na "democracia" e na economia de mercado. 
No plano político, o homem simples não é um ator. Limita-se a receber notícias que, como sabemos, não é a verdade dos bastidores e refletem meias verdades. No campo da economia, geralmente é assalariado. Produza mais ou menos, crie mais ou menos, o salário é mensal e invariável, salvo nas posições de cúpula. 
Pouco se lhe dá a sorte da empresa, porquanto o engrandecimento desta não corresponde a engrandecimento dele. É o velho problema da alienação. Em nosso país, trataram de confinar a limites enganosos o importante instituto da participação dos empregados nos lucros das empresas num insípido "PLR",  o que significaria, se real, conjunção das sortes entre empregados e empregadores. No Japão essa conjugação foi tão importante que, em certo momento, o governo se viu obrigado a pedir aos empregados que trabalhassem menos. 
O embrutecimento num trabalho repetitivo e depressivo, não raro deslocado das formações educacionais e do desenvolvimento cultural, é tão acentuado que, segundo pesquisas, é grande o número de suicídios por empregados e funcionários públicos na França,  um suposto mundo de satisfação pessoal. Sem falar na também imaginária "saída" pelo álcool e pelas drogas, ou no recrutamento pelo Exército Islâmico. 
O Brasil é um País de salários muito baixos acrescidos de penduricalhos que, proporcionais a esse salário, são ilusórios, como FGTS, PIS e outros derivativos atrelados àqueles. De ilusão básica em ilusões emergentes, caminham todos. 
Um governo de salvação nacional fica na periferia dos fatos, enganando-se igualmente. Fala-se da crise da previdência social sem que o Presidente venha a público para exprimir concretamente seu conteúdo, provocando, assim, um debate superficial. 
Desse modo caminhamos e envelhecemos. Postos na camisa de força de um mundo material em que nossa liberdade profunda não existe. Nossos espíritos - brasileiros - com as raras exceções, não se largam a aventuras desafiantes, tal qual a criatividade no trabalho, o domínio da cultura e consequente aperfeiçoamento do eu interior e da realidade exterior, a democratização da ciência, o culto das artes. As crianças não abandonam por um minuto seus celulares e joguinhos.  Nossas "Universidades" são criadas em quantidade e são péssimas em qualidade, na proporção em que seu número cresce. A realidade é a mesma de um século; as universidades públicas são as únicas responsáveis pelo saber brasileiro, quando as escolas "superiores" privadas fazem parte do teatro das ilusões. 
Alterar esse "status quo" não é coisa para um homem ou um partido político. Agravado o problema pela falta de líderes políticos, consequência dessa degradação paulatina de nossa educação e cultura, o desafio de criar um País saudável e prazeroso de viver é assombroso. 
Amadeu Roberto Garrido de Paulaé Advogado e membro da Academia Latino-Americana de Ciências Humanas. 

Esse texto está livre para publicação

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