terça-feira, 18 de julho de 2017

‘Há uma dificuldade da mulher de se preparar para a política’


O TEMPO


ENTREVISTA



Em entrevista à rádio Super Notícia FM, a deputada federal Jô Moraes defendeu o direito do ex-presidente Lula de disputar a eleição presidencial de 2018, disse que está cedo para falar em nome do PCdoB para candidatura própria e listou as dificuldades que as mulheres enfrentam na representação política


PUBLICADO EM 19/07/17 - 03h00













O que a senhora pensa da baixa participação da mulher na política? O que pode ser feito para mudar essa realidade? 

Temos dois problemas: primeiro, o número reduzido de mulheres que têm, sobretudo, mandato, porque houve uma redução do número de deputadas estaduais e vereadoras aqui, em Minas, e apenas o número de deputadas federais ampliou nesta última legislatura. Segundo, tem a histórica chamada “dupla e tripla jornada”; muitas vezes as mulheres que atuam na política têm acumulado uma sobrecarga da atividade familiar, que é a responsabilidade de cuidar de todas as coisas da casa. E eu acredito que também a vida cotidiana objetiva das mulheres é mais difícil.

A senhora diria que há uma baixa procura, um baixo interesse das mulheres de se candidatar a cargos eletivos; ou elas realmente enfrentam dificuldades de conseguir o apoio do partido? 

Eu diria que existem dois problemas que a mulher enfrenta nesse processo. O primeiro é a vida cotidiana. As mulheres têm uma dificuldade muito grande de se preparar para falar em público, para se colocar, para fazer aquelas disputas que o mundo da política impõe, do grito. Há uma dificuldade da mulher de se preparar para a atividade política. E há também uma dificuldade na vida dela, que tem que assumir enormes responsabilidades, para participar. Há dificuldade na própria vida dos partidos, reunião que vai até a madrugada, as mulheres jovens que participam do processo político não têm onde deixar seus filhos. Os maridos muitas vezes reclamam porque chegam tarde de uma atividade partidária. O cotidiano tão duro e cerceador faz com que a mulher não se empodere, que ela não se ache capaz.

Nos últimos dias ficou clara uma proximidade do PCdoB com Rodrigo Maia. Como a senhora avalia isso?

Nós temos uma definição clara, o PCdoB se reuniu nesse último fim de semana e tem como foco barrar as reformas regressivas que tiram os direitos dos trabalhadores. Já se foi a reforma trabalhista, e nós estamos focados em impedir que a reforma previdenciária, que é uma tragédia humana, é uma crueldade, possa ser aprovada. Por isso, o centro do nosso combate é reforma, e qualquer candidato que tiver compromisso com essa agenda de reforma não será apoiado pelo PCdoB. O partido tem um foco que é barrar as reformas e defender as diretas já. E essa discussão é o como disse o ex-ministro Aldo Rebelo (PCdoB): “A conversa no boteco é muito grande, mas não existe nenhuma construção”. Isso porque, na análise do PCdoB, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia quer suceder o Temer para continuar na agenda das reformas, e nós somos radicalmente contrários a tirar direitos.

Caso o ex-presidente Lula não esteja elegível no pleito de 2018, como o PCdoB vai lidar com essa situação?

O PCdoB considera que nós estamos vivendo uma ameaça ao Estado democrático de direito; algumas medidas são absolutamente controvertidas diante da legislação constitucionais que nós temos e que nós temos que defender o Estado de direito, assegurar que o funcionamento democrático se mantenha e garantir as eleições de 2018 deve ser o centro que unifica todo mundo. Nós temos que barrar essa perseguição indiscriminada que está se dando. Nós defendemos o direito do presidente Lula de disputar as eleições. Agora, nós consideramos que ainda é cedo para definir a posição do PCdoB, o partido está discutindo, inclusive, candidatura própria. Como consideramos que ainda é cedo para definir nomes, então nós vamos apresentar primeiro para a sociedade um debate sobre um programa de governo para 2018. Agora, nós somos absolutamente defensoras do direito do Lula de disputar, porque o que está se fazendo é absolutamente uma perseguição tendenciosa. Todos nós sabemos que o ex-presidente cometeu erros políticos, sim, mas ele está sendo perseguido, não pelos erros, mas pelos acertos de incluir 30 milhões de pessoas na economia brasileira.

Completando a pergunta anterior, na opinião da senhora, quem seria o nome que uniria as esquerdas brasileiras, ou, pelo menos, essa esquerda menos radical? Seria o nome do ex-ministro Ciro Gomes?

Nós estamos numa situação de tamanha delicadeza, de tamanha imprevisibilidade, como disse o comandante do Exército, (Eduardo) Villas Bôas, uma situação que o país está à deriva, que seria absolutamente precipitado discutir nomes. O país está em ameaça, estamos vivendo um momento de deflação, são 14 milhões de desempregados, várias empresas fechando, a indústria brasileira em uma retração profunda. Esse é um momento em que nós temos que discutir o Brasil, temos que ver como retomar a atividade econômica. É preciso fazer, como em crises anteriores, criar frentes de trabalho para responder a esses problemas do desemprego. Hoje se colocam legislações regressivas. Por isso que acho precitado. O Ciro Gomes é um nome importante, é um homem que tem liderança no país, que debate o projeto nacional de desenvolvimento, mas ainda é muito cedo.

A senhora é a favor da cláusula de barreira? 

Nós estamos discutindo agora no Congresso a reforma política. Hoje o PCdoB, para funcionar, teria que ter na legislação, por exigência, 2% dos votos nacionais e 2% em 14 Estados. O que nós estamos discutindo é que se inicie um processo gradativo, e o PCdoB já participa do acordo defendendo que os partidos tenham 1,5% dos votos no país para ter um funcionamento.

Nós temos ouvido de muitas pessoas que o prazo para fazer eleições diretas está ficando cada vez mais curto, que talvez seria até traumático para o Brasil ter uma eleição direta agora e em pouco mais de um ano, uma outra eleição para presidente da República. Como que a senhora se posiciona diante disso?

O PCdoB defende eleições diretas desde quando a presidente Dilma Rousseff ainda estava sofrendo processo de impeachment. Naquele momento, nós dizíamos para fazer uma antecipação e realizar as eleições. O PCdoB considera que eleições diretas, voto do povo, são o único instrumento que dá legitimidade a alguém que vai governar o país. O que nós queremos dizer é que não é a metodologia que deve nos orientar, é sobretudo este aval que o povo brasileiro tem que ter.

A defesa do presidente Temer está preparando uma estratégia, pois para o dia 2 de agosto está prevista a votação sobre a admissibilidade da denúncia na Câmara dos Deputados. A oposição também está preparando uma estratégia?

A nossa maior preocupação é que parece que o povo brasileiro esqueceu o que ocorre no país. Foram liderados em junho R$ 1,8 bilhão em emendas parlamentares para os deputados; para os membros da CCJ foram liberados mais de R$ 255 milhões só nos últimos dias. Parece que há uma perplexidade da população que foi para as ruas combatendo, querendo o impeachment da Dilma porque houve corrupção, e agora os fatos se sucedem abertamente, claramente, e a população não reage.

O PCdoB analisa a possibilidade de ter candidatura própria ao governo de Minas diante das dificuldades que o governador Fernando Pimentel enfrenta?

O PCdoB considera que essa eleição será um desafio, e o desafio principal será a necessidade de colocar a cara dos partidos. O PCdoB é uma legenda que tem um projeto para o país, que tem uma ação junto ao povo muito grande e vai fazer uma construção, sobretudo, que lhe dá mais visibilidade, integrando a chapa majoritária. Em que espaço e como, nós ainda vamos discutir quando chegar mais próximo. Nós integramos o governo de Pimentel e estamos tentando construir um novo projeto para Minas Gerais.

O Tempo

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