sábado, 5 de agosto de 2017

Síndrome do bolso vazio

Em tempos de alta inadimplência, crise por todo o país e grande dificuldade das pessoas em honrar suas finanças, é importante esclarecer que nossa saúde financeira está diretamente ligada com nossa saúde física e mental. Em outras palavras, caso você esteja com dívidas e nome negativado, sua saúde certamente estará pior do que a de alguém com as finanças em dia. O que podemos fazer para acertar os ponteiros da saúde com os ponteiros das contas a pagar e não ser infectado pela síndrome do bolso vazio (SBV)?
O número de pessoas inadimplentes apresentou um crescimento expressivo no primeiro trimestre deste ano. No final de março, já era de 60 milhões de consumidores brasileiros nas listas de devedores. Os dados são do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e mostram que, em termos percentuais, 40% da população adulta, entre 18 e 95 anos, está com o nome sujo.
Uma pesquisa publicada no periódico “Social Science and Medicine” mostra o grande impacto na saúde das pessoas endividadas. São vários os problemas clínicos decorrentes da SBV. Para iniciarmos, o primeiro da lista tem o estresse como principal culpado. Para exemplificar: o telefone toca e trata-se de um credor questionando-o sobre o pagamento de uma dívida. Oh! De repente, você se lembra que está devendo alguém. Essa lembrança gera ansiedade, logo interpretada pelo cérebro como uma ameaça e aciona as glândulas suprarrenais que, por sua vez, produzem cortisol e adrenalina, hormônios associados ao estresse. Esses hormônios despejados na corrente sanguínea desencadeiam diversas alterações importantes no organismo, processo que, se repetido com frequência, passa a provocar graves problemas de saúde, como úlceras gástricas, compulsão alimentar com ganho de peso, insônia, elevação da pressão arterial, etc.
O problema não para por aí. A persistência do estresse pode levar à depressão. Não é difícil compreender o efeito que as dívidas podem ter no indivíduo depressivo. A angústia das cobranças, a ansiedade de não achar uma saída para o problema associada ao desarranjo financeiro, afetam o humor, tiram a motivação, geram medo, insegurança e aumentam o pessimismo. Tais mudanças são um convite para a depressão.
Dando prosseguimento aos sintomas da SBV, vem o pior. São os problemas de relacionamento. Retirar da esposa e filhos o que já estão acostumados é uma aflição. Começam a ocorrer ofensas mútuas, quando um passa a culpar o outro pela situação. A cumplicidade fica fragmentada e caminha para o “fundo do poço”.
Para agravar a situação, a queda na produtividade e concentração no trabalho vira uma rotina. Funcionários que enfrentam problemas financeiros utilizam tempo de trabalho para cuidar de questões pessoais. Segundo pesquisa feita nos EUA pela PricewaterhouseCoopers em 2012, 97% dos funcionários utilizam horas de trabalho para cuidar de questões financeiras pessoais, sendo que 22% despendem pelo menos cinco horas por semana.

Para tratar a síndrome do bolso vazio, só tem dois remédios no mercado: ou saber fazer economia ou ganhar mais. Faça uma boa semana.

O Tempo

Nenhum comentário:

Postar um comentário