quarta-feira, 21 de fevereiro de 2018

Consciência


 Amadeu Garrido de Paula

O maior desafio de nossa geração se encontra em nossas consciências. Sabemos que boa parte da "classe política" sequer tem consciência da consciência. Mas nosso povo passou - e passa - por um grande sofrimento, que precisa ser encarado, porém não como um mal que nos levará à destruição.

Muito se tem dito sobre o dualismo ideológico. Esquerda e direita. Ambas mais instintivas que cerebrais. No momento em que nossa classe média tomou as ruas, porque não tinha mais condições de sobrevivência, os grupos esquerdistas, cujos governos que os representaram foram  titulares da irresponsabilidade civil e penal que nos conduziu à vala, despertou nas esquerdas amplas indecisões; uns queriam acompanhar as manifestações, outros sustentavam que seria "fazer o jogo da direita", como se nossa maioria fosse de direita. Prevaleceu esta última percepção. Os esquerdistas preferiram expor-se, ainda que plenos de equimoses morais, nos casulos vermelhos. E a extrema direita não deixou por menos, ao pretender manipular as manifestações populares, no melhor estilo nacional-socialista.

Creio que nos perdemos, no plano da consciência, em terríveis enganos. Otimistas, pessimistas e pequena parte equilibrada. Movimentos migratórios são discutidos nos jantares, algo em que não passava perto de nossas pautas há poucos anos. Defensores da educação e outros, contrapostos, da repressão. Como se fossem ações estanques e excludentes.

Há quem se entristeça por, apesar de seus esforços, de haver passeado das gloriosas passeatas de 1968, não poder ensejar o melhor dos mundos possível - Leibniz - a nossos descendentes. Ilusões frustradas. Jamais passaríamos um mundo sem dores a nossos filhos. As dores são ínsitas à humanidade. Basta ver que nossa história é história de guerras; os períodos de paz foram intervalos fugazes. E não enxergar o real é o primeiro passo em direção à infelicidade.

Logo, nossa consciência deve convergir no sentido de reduzir o mal, sem idealismo. Ser crítico a ponto de reformar, até onde for possível, nossas instituições e nossas vidas. Previamente cientes de que seremos limitados e de que nossas futuras gerações deverão complementar o trabalho. O importante é que sigam o caminho correto, de acordo com os costumes, os pensamentos, as emoções, de cada momento, certamente cambiáveis, mas que se dirijam no sentido de amenizar as dores. Sem a ilusão de eliminá-las. Se vivêssemos num mundo exclusivamente de prazeres, logo o ócio depressivo nos tomaria em seus braços deformadores. Os suicídios proliferariam.

O importante é que nossa vontade caminhe no sentido de suprimir paulatinamente as dores, contribuir para um mundo de paz etc. Essa situação incontornável do mundo humano, com certeza, permanecerá por séculos. Contudo, se lograrmos uma organização razoável da vida social, poderemos nos sentir satisfeitos e realizados por ter conseguido superar progressivamente os sofrimentos. É o intermédio, entre as circunstâncias insuportáveis, do Brasil e do mundo de hoje, e as mudanças que não se restringem a miseráveis reformas, e aquele inatingível melhor dos mundos.

Tal consciência tem raiz na educação e na cultura, que devem retomar a trilha da sabedoria, do incentivo individual e do mérito. Também aqui não tem lugar o idealismo, mas o mundo concreto das diferenciações inevitáveis. Assim fomos feitos e assim nos fizemos ao construir nossa história.


Amadeu Garrido de Paulaé Advogado, sócio do Escritório Garrido de Paula Advogados.

Esse texto está livre para publicação. 

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