quinta-feira, 22 de fevereiro de 2018

Aplauso e protesto em Berlim

O TEMPO

BERLINALE


Festival tem estreia mundial de documentário dirigido por uma brasiliense que esmiuça o impeachment de Dilma






PUBLICADO EM 22/02/18 - 03h00

PARIS, FRANÇA. Em abril de 2016, a cineasta Maria Augusta Ramos decidiu filmar por duas semanas os momentos de turbulência política vivida pela então presidente Dilma Rousseff. Não imaginava que acabaria fazendo um documentário exclusivo sobre o impeachment de Dilma, tal como viveu sua defesa.

“O Processo” foi apresentado, ontem, na mostra Panorama do Festival de Berlim, no mesmo lugar onde, no ano passado, vários cineastas brasileiros alertaram para a suposta ameaça que representava para a cultura o governo conservador de Michel Temer, que, como vice de Dilma, assumiu a presidência após sua destituição.

Cerca de 300 personalidades da sétima arte brasileira pediram, então, em uma declaração, o apoio dos representantes do cinema internacional, da mesma forma que, meses antes, a equipe do filme “Aquarius”, dirigido por Kleber Mendonça, denunciou no tapete vermelho do Festival de Cannes o que consideravam um golpe de Estado.

O documentário de Maria Augusta mostra como a equipe que defendeu Dilma, acusada de maquiar as contas públicas, preparou sua estratégia e lutou até o final, apesar de estar cada vez mais consciente de que a destituição, apoiada pela oposição, seria inevitável.

Sem voz em “off” nem entrevistas, o documentário de mais de duas horas de duração mostra, além disso, as conversas de corredor, os encontros de dirigentes políticos, assim como os momentos de tensão nos bastidores e nas ruas, sintoma do clima de polarização que tomou conta dos brasileiros. Artífices da defesa ante à comissão especial que conduziu o processo de impeachment, o advogado José Eduardo Cardozo e a senadora Gleisi Hoffmann – atual presidente do PT – se transformam assim em protagonistas de um documentário em que Dilma é onipresente, mesmo que seja apenas mostrada falando à imprensa ou fazendo pronunciamentos. “Faço filmes para entender a realidade” e “o que estava acontecendo no Brasil me preocupava muito”, afirmou Maria Augusta à AFP.

Ela é autora de uma trilogia sobre o sistema judicial de seu país e vencedora de vários prêmios no exterior. Seu filme não pretende “mudar a opinião de ninguém”, segundo ela.

Protesto. Munidos de faixas, megafones e panfletos, um grupo de 15 pessoas fez uma manifestação em apoio ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ontem, na praça de Potsdamer Platz, uma das mais movimentadas de Berlim.

O protesto, convocado pelas redes sociais por brasileiros que moram na cidade, aconteceu a um quarteirão do Berlinale Palast, onde acontece o Festival de Berlim. A manifestação aconteceu algumas horas antes da estreia do documentário “O Processo”.

O protesto, que contou com performance de músicos e um bailarino, atraiu alguns curiosos que passavam pela região, cercada de shoppings, hotéis e de estações de metrô.

Uma longa carta aberta foi lida no início da ação popular, na qual se pede “o resgate imediato do Estado democrático e de direito; o direito de Lula ser candidato; a volta da presidenta eleita; o enquadramento dos golpistas e imediata revogação dos seus atos; e por eleições limpas, transparentes e sem o aparelhamento dos golpistas”.

O Tempo

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