quarta-feira, 21 de fevereiro de 2018

Divagações sobre velhos temas que nunca passam nem morrem

O TEMPO

Acílio Lara Resende


PUBLICADO EM 15/02/18 - 03h00
Não há como ficar fora de alguns temas. Digamos que o primeiro que nunca passa é o Carnaval. Não há tempo ruim para ele, como não há crise política ou financeira que o desconsidere ou o descarte. Começou ainda no período colonial. Sua primeira manifestação foi o entrudo – uma festa de origem portuguesa, da qual, no início, só participavam escravos. Considerado uma festa violenta em razão, sobretudo, dos ataques a pessoas, e da qual a elite não participava, o entrudo acabou sendo considerado crime. Em seguida, surgiram os grandes bailes de Carnaval em clubes e teatros, criados por ela própria – a elite. O povo, porém, com as marchinhas de Carnaval, voltou a tomar parte dele, transformando-o, nas ruas, numa festa popular, na qual estão incluídas todas as classes sociais. Chiquinha Gonzaga, com a música “Abre-Alas”, é considerada personalidade marcante dessa época.
Quem diria que nossa cidade finalmente se tornaria palco de um dos melhores Carnavais de rua?! Com centenas de blocos (340 para uns ou bem mais de 500 para os otimistas), que desfilaram de maneira absolutamente pacífica, o Carnaval de rua de Belo Horizonte corre o risco de ser considerado um dos melhores do país, deixando para trás os do Rio de Janeiro, da Bahia, de Pernambuco, de São Paulo etc.
Ou isso é puro ufanismo mineiro?
Pelo sim, pelo não, de uns anos para cá, a capital mineira deixou de lado clubes tradicionais e encontrou, nas ruas, uma alegria realmente contagiante e pacífica. Pensando bem, porém, noutros tempos, que já dobraram a esquina desse espetáculo que é a vida, de maneira alucinantemente rápida, quando a “cidade do verde” dava os primeiros passos para se tornar uma grande metrópole, e dos quais minha geração jamais se esquece, já houve em nossa sofrida BH Carnaval de multidão tão alegre e cordial como o deste ano de 2018.
Outro tema que, no Brasil de hoje, está mais quente do que água fervendo é a política. Explorada em todos os Carnavais, mas com ênfase maior no deste ano, foi tema central de escolas de samba e blocos espalhados pelo país. Da escravidão e do racismo, passando pela violência nas grandes cidades, mas, sobretudo, pela política imposta ao país por representantes e/ou gestores inescrupulosos, uma crítica pesada tomou conta das manifestações, com reflexos jamais vistos nas redes sociais. Os Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário sofreram críticas severas. Ou seja, como disse o antropólogo Roberto DaMatta, “a conjuntura política, em ano de eleições marcadas pela incerteza, ampliou o peso das críticas, embora o Carnaval já seja, tradicionalmente, um espaço aberto para se falar sem censura sobre os problemas do país. O que fatalmente acontece agora é a politização do Carnaval”. “É o Carnaval da crítica. Alguém tem que falar”, resumiu bem Neguinho da Beija-Flor.
É isto mesmo: alguém tem que falar. Estamos sabendo, por exemplo, que uma resolução do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), traiçoeiramente publicada no início deste mês, permite que candidatos às eleições deste ano financiem, inteiramente, com recursos próprios, suas campanhas. Que pensam esses ministros? É verdade que as regras, até o dia 5 de março, ainda poderão ser revistas. Tudo leva a crer que o assunto será definido pelo Supremo Tribunal Federal (STF), em recursos apresentados por alguns dos partidos políticos.

Essa resolução, se vingar, favorecerá os ricos. Será o início do fim do regime democrático. Senhores: é isso o que querem?
O Tempo

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