domingo, 27 de novembro de 2016

Futuro é incerto na ilha revolucionária de Fidel

O Tempo

REVISÃO

Para especialista, sem ‘peso’ sobre Raúl, situação política e econômica se abrirá


PUBLICADO EM 26/11/16 - 21h08







HAVANA, CUBA. O que vai acontecer em Cuba com a morte de Fidel Castro? “Um grande funeral”, ironizam cubanos ante a pergunta, tentando minimizar o impacto que teria na ilha o desaparecimento do pai da Revolução Cubana. “Os cubanos já enterraram Fidel faz tempo”, afirmou um diplomata ocidental que viveu vários anos em Cuba. “Eles estão com a cabeça no futuro. Para muitos deles, Fidel não é mais que um passado glorioso”, disse. Deixando o poder em 2008 para seu irmão mais novo Raúl, Fidel conservou um peso moral.
“Com a morte de Fidel, a situação política e econômica provavelmente se abrirá. Tirará um peso sobre Raúl. Ele não terá mais que se preocupar com as contradições com seu irmão mais velho, uma personalidade avassaladora”, afirmou à agência France Presse Michael Shifter, presidente do Inter-American Dialogue, centro de estudos americanos.
Em Cuba não há estátuas suas nem grandes retratos nas ruas, mas os muros estão cobertos por frases suas e a imprensa oficial cita cotidianamente suas frases grandiloquentes.
Único. Setenta por cento dos cubanos jamais conheceram outro líder a não ser aquele que chamam simplesmente Fidel, “o comandante” ou “o chefe”. Nas conversas, os mais prudentes simplesmente aludiam a ele fazendo um gesto de acariciar a barba, e falando baixo. “A imensa maioria dos cubanos conserva um vínculo pessoal com Fidel”, afirma o analista político Rafael Hernández, diretor da revista “Temas”.
“A expectativa de mudança vai crescer entre a maioria dos cubanos. A morte de Fidel muito certamente abrirá a porta para conflitos maiores e confrontos entre as pessoas que exercem o poder. Se terá ido o árbitro supremo de todos os conflitos em Cuba. Raúl terá mais, muito mais espaço, mas também o terão seus adversários políticos”, estimou Michael Shifter.
Arturo López Levy, especialista em assuntos cubanos do Centro de Estudos Globais da Universidade de Nova York, foi mais prudente. “Depois da morte de Fidel, ganharão ímpeto a reforma orientada para o mercado e a erradicação das políticas comunistas mais impraticáveis. Sem o carisma de Fidel, as disposições do Partido Comunista descansarão nos resultados econômicos”, afirmou. “Mas o impacto sobre o ritmo e a natureza das reformas de Raúl será limitado. Raúl já tem a última palavra na aplicação de sua agenda reformas. Ele não necessita provar sua legitimidade”, disse.

EUA perdem o adversário de meio século

Os Estados Unidos acordaram neste sábado (26) sem o seu adversário de meio século, Fidel Castro, que durante cinco décadas foi um rival indomável da Casa Branca. “A história registrará e julgará o enorme impacto de sua personalidade singular no povo e no mundo em volta dele”, afirmou Barack Obama, em uma referência ao discurso de Fidel “A história me absolverá”, com o qual se defendeu em 1953, quando julgado pelo ataque ao quartel Moncada. “Os cubanos recordarão o passado e também olharão para o futuro. Devem saber que têm nos EUA um país amigo e associado”, afirmou o presidente norte-americano.


REPERCUSSÃO

“Fidel Castro está morto! Ditador brutal que oprimiu seu próprio povo por quase seis décadas.” Donald Trump, presidente eleito dos EUA

“Fidel e Chávez construíram a Alba, Petrocaribe e impulsionaram o caminho de liberdade dos nossos povos. A história os absolveu.” Nicolás Maduro, presidente da Venezuela

“Estadista excepcional considerado um símbolo de toda uma era na história moderna do mundo. Fidel foi um verdadeiro e leal amigo da Rússia.” Vladimir Putin, presidente da Rússia

“Peço ao Senhor por seu descanso e confio todo o povo cubano à intercessão materna de Nossa Senhora da Caridade do Cobre, padroeira deste país.” Papa Francisco

“Morreu o maior de todos os latino-americanos. Sinto sua morte como a perda de um irmão mais velho, de um companheiro insubstituível.” Luiz Inácio Lula da Silva, ex-presidente do Brasil

“Fidel Castro foi um líder de convicções. Marcou a segunda metade do século XX com a defesa firme das ideias em que acreditava.” Michel Temer, presidente do Brasil

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