sábado, 5 de agosto de 2017

Primo de Aécio temia delação de Joesley: 'acaba o Brasil'

O TEMPO

CRISE SEM FIM

Revista “Época” teve acesso a imagens e gravações que detalham repasses de propina da JBS




PUBLICADO EM 05/08/17 - 03h00

BRASÍLIA. Gravações e imagens às quais a revista “Época” teve acesso permitiram reconstituir em detalhes as entregas de malas de dinheiro que investigadores da força-tarefa da Lava Jato descobriram ao realizar ações controladas autorizadas pela Justiça. Por diversas vezes, Frederico Pacheco, primo do senador Aécio Neves (PSDB), revela-se receoso sobre a função a ele delegada de transportar remessas de milhares de reais, em dinheiro vivo, para o tucano.
Em uma das cenas, datada de 12 de abril deste ano, Fred, como é conhecido, questiona, nervoso, ao lobista Ricardo Saud, da JBS: “Quem é que fica andando com 500 mil de um lado para o outro?!”. Fred estava no escritório de Saud, em São Paulo, para apanhar a segunda parcela de R$ 500 mil dos R$ 2 milhões acertados dias antes entre o senador e Joesley Batista. Ele fora designado para a tarefa pelo próprio Aécio, e a Polícia Federal monitorava o encontro.
Segundo a reportagem da revista, Fred estava nitidamente desconfortável e não aceitou água nem café. Diante dele, em uma mesa, havia uma mala preta abarrotada de pacotes com notas de R$ 50. “Onde eu tô me metendo, cara?”, comentou.
A mala havia sido providenciada por Florisvaldo de Oliveira, que costumava auxiliar Saud nas entregas de dinheiro, mantendo um pequeno estoque à disposição. A revista conta que Oliveira recolheu o “cash” para a propina na central da JBS. Chamada internamente de “Entrepostos”, ela reunia verbas de clientes da empresa, como supermercados e distribuidores de carnes, que giravam dinheiro vivo.
A “Época” reconstituiu essa e outras cenas de entregas de dinheiro por meio de gravações, autorizadas pela Justiça, de entrevistas reservadas com participantes da ação controlada. Os monitoramentos, que partiram das delações dos executivos da JBS, flagraram cinco pagamentos que somaram R$ 2,4 milhões: três entregas de R$ 500 mil para Aécio, uma de R$ 400 mil destinada a manter o silêncio do doleiro Lúcio Funaro e, por fim, uma de R$ 500 mil reservada ao presidente Michel Temer, por meio do ex-deputado Rodrigo Rocha Loures (PMDB).
A revista detalha que Fred buscou todas as parcelas de Aécio nos dias 5, 12 e 19 de abril e 3 de maio – a primeira não foi monitorada. “Se eu te contar uma coisa, você não vai acreditar: a única pessoa com quem eu tratei em espécie foi você. A única pessoa que pode falar de mim é você”, disse Fred a Saud, que o deixou desabafar. “Como é que eu não faço? Tenho um compromisso de lealdade com o Aécio”, disse o primo, antes de contar o dinheiro. “Um, dois, três, quatro, cinco... Ih, fiz a conta errada. Peraí. O que tem em cada pacotinho desses?”.
Enquanto conferia os valores, Fred falava sobre os riscos aos quais estava exposto. “Amanhã eu vou estar com Aécio na fazenda, em Cláudio, e vou falar que já fiz duas e faltam duas. (Fala como se estivesse se dirigindo a Aécio) ‘Só para você entender: estamos nos cercando de cuidados, mas não é uma operação 100% sem riscos’”. A reportagem conta que Fred também pensava em maneiras de se proteger, caso fosse parado em uma blitz, por exemplo.
No terceiro encontro para repasse dos valores, Fred almoçou com Saud. “Tem alguma chance de Joesley fazer delação? Se fizer, acaba o Brasil. Tem de inventar outro”, comentou o primo de Aécio. Saud apenas riu.
Desigual
Pedido. Primo de Aécio, Frederico Pacheco pediu ao ministro Marco Aurélio, do STF, para ser dispensado da prisão domiciliar. Sua defesa alega que, se o senador está solto, ele também deveria estar.


OUTRO LADO

Defesa de senador nega irregularidades

BRASÍLIA. Em nota, a defesa do senador Aécio Neves (PSDB) informou que o empréstimo de R$ 2 milhões oferecido por Joesley Batista seria regularizado por meio de um contrato de mútuo, mas que o empresário queria “única e exclusivamente forjar uma situação criminosa que lhe desse o benefício da delação premiada”.
A defesa voltou a argumentar que foi proposto ao dono da JBS a venda de um apartamento, no Rio de Janeiro, de propriedade da família do senador há mais de 30 anos. No entanto, “o empresário, já atendendo aos interesses de sua delação, propôs emprestar recursos, segundo ele, originados de suas lojas, portanto, considerados lícitos pelo senador”, diz o texto.
Na nota, a defesa reitera que Aécio demonstrará “a correção de suas ações e a farsa da qual foi vítima, montada por Joesley, de forma premeditada, para obter o benefício da impunidade penal”. Leia a íntegra da nota no Portal O Tempo.


EM NOTAS DE R$ 50

Temer seria destinatário de R$ 500 mil entregues a Loures

BRASÍLIA. A revista “Época” também teve acesso a imagens e gravações que detalham a ação controlada que flagrou a entrega de R$ 500 mil, em notas de R$ 50, ao ex-deputado Rodrigo Rocha Loures (PMDB), ex-assessor do presidente Michel Temer. O repasse havia sido acertado entre Rocha Loures e o lobista Ricardo Saud, da JBS, em troca de um benefício ilegal no Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) a uma empresa do grupo J&F que detinha contrato com a Petrobras.
Temer havia delegado a Rocha Loures, em conversa gravada com Joesley Batista, a prerrogativa de “falar sobre tudo”. Segundo a reportagem da revista, as gravações de conversas entre Saud e Rocha Loures, que antecederam a entrega dos R$ 500 mil, não dão margem a dúvida sobre a razão do pagamento e da própria existência das conversas entre os dois lados.
Na noite do dia 28 de abril, após giros por São Paulo, o ex-deputado recebeu a mala das mãos de Saud e saiu com ela de uma pizzaria. Rocha Loures carregou o dinheiro pela rua em passos acelerados em direção a um táxi que o aguardava.
Pela lei, bastariam os indícios de autoria e materialidade do pedido de propina do presidente, mesmo que indireto, para tipificá-lo na denúncia que viria a ser apresentada pela Procuradoria Geral da República (PGR). No entanto, segundo a reportagem, havia mais do que isso: havia pilhas e pilhas de notas de R$ 50, organizadas com cuidado por Saud e o ajudante Florisvaldo de Oliveira, à espera de Temer e seu assessor.
As fotos exibidas pela revista “Época” expõem a materialidade do crime que teria sido praticado pelo presidente e por seu assessor de confiança. Pela lei, não era necessário provar que Temer, suspeito de integrar a organização criminosa do PMDB da Câmara, tivesse embolsado diretamente os pacotes de dinheiro em algum momento. A reportagem ressalta que o presidente, segundo as evidências disponíveis e como indicam outros casos, valia-se de operadores, como o coronel João Baptista Lima, e políticos de confiança, como Eduardo Cunha, para cuidar do dinheiro sujo que lhe era devido.


‘QUADRILHÃO’

Pedido. A defesa de Michel Temer pediu ontem que o ministro Edson Fachin, do STF, negue o pedido feito pela Procuradoria Geral da República para incluí-lo em um inquérito em que políticos do PMDB são investigados por organização criminosa. Na avaliação de Antonio Cláudio Mariz de Oliveira, advogado de Temer, trata-se de um artifício para abrir mais inquéritos contra o presidente, em “desprezo pela governabilidade e pela tranquilidade” do Brasil.
Nota enviada pela defesa do senador Aécio Neves (PSDB-MG):
Sobre a matéria  “As malas de dinheiro da JBS destinadas a Temer e Aécio”, publicada no site da revista Época, informamos que:

O empréstimo de R$ 2 milhões oferecido por Joesley Batista seria regularizado por meio de um contrato de mútuo, se o único objetivo do empresário não fosse única e exclusivamente forjar uma situação criminosa que lhe desse o benefício da delação premiada.

Como já foi esclarecido, foi proposta ao empresário Joesley Batista a venda de um apartamento, no Rio de Janeiro, de propriedade da família do senador há mais de 30 anos. O empresário, já atendendo aos interesses de sua delação, propôs emprestar recursos, segundo ele originados de suas lojas, portanto, considerados lícitos pelo senador.

Sobre a oferta de contrapartida mencionada na matéria, ela não foi feita pelo senador Aécio Neves como demonstram as gravações entregues à Justiça pelo empresário e como também declarou o ex-executivo Ricardo Saud em depoimento: “Aécio nunca fez nada por nós”.

Na gravação, é possível verificar que o pedido de Joesley de interferência do senador na Vale foi refutado por Aécio. Desta forma, não existem provas que fundamentem as acusações de propina e favorecimentos ilegais. Também inexistem quaisquer atos do senador que possam ser considerados de obstrução aos trabalhos da Lava Jato.

Como já divulgado pela imprensa, a defesa de Frederico Pacheco depositou judicialmente R$ 1,5 milhão no dia 13 de junho, referente ao empréstimo. Os demais R$ 500 mil já se encontravam com a PF.
Por fim, a defesa reitera que o senador Aécio demonstrará, com serenidade e firmeza, a correção de suas ações e a farsa da qual foi vítima, montada por Joesley, de forma premeditada, para obter o benefício da impunidade penal frente aos crimes que comprovadamente praticou.
Defesa do senador Aécio Neves
O Tempo

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