quinta-feira, 5 de abril de 2018

‘Ela é uma mulher libertária’

O TEMPO

ENTREVISTA




Nathalia Dill, a Elisabeta de ‘Orgulho e Paixão’, fala do desafio de viver uma personagem à frente do seu tempo
PUBLICADO EM 05/04/18 - 03h00

SÃO PAULO. Com o mesmo olhar feminista, a identificação de Nathalia Dill com Elisabeta, sua personagem em “Orgulho e Paixão”, é natural. Por isso, a atriz entende bem os conflitos da protagonista, que quer sair do Vale do Café e conhecer o mundo em vez de se casar e levar uma vida como a das mulheres do local. No entanto, o romance já se instalou em seu caminho e a colocou no vértice de um triângulo amoroso completado por Darcy (Thiago Lacerda) e Ernesto (Rodrigo Simas).
São as várias facetas da protagonista, e não apenas o lado libertário, que vêm encantando a atriz de 32 anos. Na entrevista a seguir, Nathalia compara a situação da mulher na época da trama com a atual, comenta sobre o relacionamento de Elisabeta com os personagens a sua volta e conta como trabalha com o texto e com a direção da novela para criar o seu papel. Ela também lembra como foi importante para sua carreira o fato de interpretar as gêmeas Júlia e Lorena em “Rock Story” (2016).
O que mais a atraiu na Elisabeta de “Orgulho e Paixão”?
Quanto maior o número de possibilidades que o personagem tiver, melhor ele é. O que eu mais gosto da Elisabeta é esse colorido dela, tem um leque de emoções. Ela tem humor, drama, romance e ironia, que são muito interessantes.
Você considera a Elisabeta uma mulher à frente do seu tempo?
Qualquer mulher sempre esteve à frente. Todos os tempos foram atrasados para elas, assim como para os negros e para todas as minorias. Acho que quando a gente está ouvindo o nosso desejo e querendo viver a nossa vida, naturalmente estamos adiante daquele momento.
Você é feminista e a Elisabeta é uma espécie de vanguardista desse movimento pela forma como pensa. Que atitudes da personagem a inspiram?
A época dela era muito atrasada para as mulheres assim como a nossa ainda é. Só o fato de ela não abaixar a cabeça para as situações, não aceitar o status quo, já é uma coisa que me inspira. É uma energia que, quanto mais conseguir colocar nela, melhor.
Essa postura libertária da Elisabeta em 1910 a impressionou?
É uma luta muito forte, você vai ter sempre que estar contra um sistema que te ataca. Qualquer mudança é muito sofrida. A Elisabeta, por querer trabalhar e ter o desejo de se casar com o amor que ela realmente encontre, já tem uma postura bem heroica. O que me impressiona é o jeito como ela lida com a situação, pois tem uma língua muito afiada. Isso que é bonito e difícil de fazer. O modo como o autor (Marcos Bernstein) está escrevendo e o Fred (Mayrink) dirige está contando como ela é uma personagem atenta a todos os sinais a sua volta. Eu também, como atriz, tento fazer isso, observo os outros atores, a situação, a locação e o cenário, como está estruturado, para jogar com todos esses elementos o máximo possível.
As pessoas ainda acham que é importante o casamento para que a mulher seja bem-sucedida?
Essa vida pessoal, esse lar, nunca foi muito desatrelado da mulher, tanto que as perguntas sobre crianças são mais voltadas para nós do que para eles. É muito difícil você ver uma chamada no jornal em que um homem fala: “Quero muito ter um filho ou estou louco para engravidar com a minha esposa”. Esse modelo esteve sempre no imaginário da nossa sociedade, não tem como desligar. Por isso que fica essa ideia de que quem não casa não chegou lá ou que falta um pedaço do quebra-cabeça. Temos que desvincular isso mais um pouco.
Como você vê as discussões da Elisabeta com a mãe, Ofélia Benedito (Vera Holtz), que quer ver as filhas casadas de qualquer jeito?
O que acho genial é que a Vera Holtz não está fazendo essa mãe opressora. Na verdade, ela tem uma necessidade real de fazer as filhas sobreviverem, é genuíno dela. E a Vera faz isso com muito humor. Então, são uns embates mais ideológicos do que de briga, não são ríspidos, o que torna a família divertida. Foi uma sacada!
Como fica o triângulo amoroso com o Darcy e o Ernesto?
O Ernesto, personagem do Rodrigo Simas, é do mesmo lugar que ela, é libertário como a Elisabeta. Já o Darcy, feito pelo Thiago Lacerda, é um homem que vem de fora, é estranho, não está naquele ambiente. Mas eles têm uma similaridade, uma irmandade genuína entre os dois. Por isso, dá uma desestabilizada no romance dela com o forasteiro.
A obra “Orgulho e Preconceito”, da Jane Austen, teve várias adaptações ao longo do tempo. Você viu alguma?
Eu li o livro, preferi me basear nele e nos roteiros da novela. Mas fiquei com vontade de ver o filme. Acho que agora já dá porque gravei vários capítulos.
Antes de “Orgulho e Paixão”, você fez “Rock Story”, em que interpretou gêmeas. Que aprendizado ficou por ter feito duas personagens diferentes na mesma produção?
Foi incrível e profundo para o meu trabalho como atriz, uma experiência muito rica pela qual nunca tinha passado. A partir dos outros personagens, você também vai criando o seu, então, quando faz um outro papel, tem de encontrar um novo jogo em cena. Isso era muito legal.
O Tempo

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