quarta-feira, 22 de junho de 2016

Pelos vínculos com a história

Como acontece anualmente, a CineOP – Mostra de Cinema de Ouro Preto, promoverá entre hoje e o dia 27, uma programação centrada em oficinas, seminários, além da exibição de filmes – que desta vez contempla 91 títulos, entre longas, médias e curtas-metragens. Estão também previstas duas pré-estreias nacionais: “Filhos de Bach”, de Ansgar Ahlers, e “Crônicas da Demolição”, de Eduardo Ades.
Em sua 11ª edição, o evento vai homenagear o cineasta Eduardo Coutinho (1933-2014) e o montador Francisco Sérgio Moreira (1952-2016), que é reconhecido como um dos pioneiros no trabalho de restauração de filmes no Brasil. Embora a CineOP comece hoje, a abertura das mostras acontecerá amanhã com a projeção de “Cabra Marcado Para Morrer”, de Coutinho.
Essa é considerada uma das mais importantes obras da carreira do cineasta. Um dos curadores do festival, Francis Vogner dos Reis observa que a produção ganhou esse status porque retoma personagens e reflete sobre os prejuízos humanos, sociais e políticos verificados no país durante o período da anistia, de maneira até então inédita.

“O filme faz uma avaliação de um processo histórico, político e cultural no país, abre a caixa preta da clandestinidade durante a ditadura. ‘Cabra Marcado para Morrer’ é o primeiro filme que vai mexer nesse assunto de forma mais intensa’, sublinha.
Ao seu ver, abordar o legado de Coutinho, ressaltando a sua contribuição para o audiovisual nacional, permite compreender melhor a maneira como ele fez a mediação do Cinema Novo com o cinema brasileiro contemporâneo. “Ele é um cineasta que é o grande paradigma do documentário brasileiro. E no seu segundo período, a partir dos anos 2000, ele é o grande cineasta que pensou nosso tempo contemporâneo, a partir do registro e da relação dos personagens com o seu cotidiano”, acrescenta.
O crítico é responsável pela curadoria da Mostra Histórica que vai abarcar trabalhos com um enfoque no momento de abertura política, entre 1976 até a nova Constituição, em 1988. Entre as produções selecionadas, figuram “A Próxima Vítima”, de João Batista de Andrade, “Eles Não usam Black Tie”, de Leon Hirszman, e “Extremos do Prazer”, de Carlos Reichenbach.
Ao comentar sobre essas escolhas, Reis frisa o modo como elas permitem a revisão de acontecimentos da recente história brasileira. Isso, para ele, pode possibilitar entender melhor quais aspectos são remanescentes na política nacional desde o período da ditadura.
“Muita coisa que parecia superada do passado autoritário e violento da ditadura com a redemocratização parece que ficou recalcado durante esses anos de nossa frágil democracia. Por isso é importante voltar os olhos para este período, para entender a origem da crise pela qual passamos hoje”, diz.
Outro momento relevante da CineOP será marcado pelas discussões em torno de um Plano Nacional de Preservação Audiovisual, que deverá ser divulgado no dia 27. Laura Bezerra, presidente da Associação Brasileira de Preservação Audiovisual, pontua que, a partir de amanhã, será apresentada versão do documento a ser analisada e aprovada até o fim do festival.
“A ideia é concluir a CineOP com o Plano Nacional de Preservação Audiovisual, que representará um passo muito importante para uma posterior implantação de uma política nacional de conservação desses acervos em todo o país”,
Um dos principais temas a serem abordados nos encontros será a questão dos arquivos de televisão, o que, de acordo com a pesquisadora, interessa tantos aos realizadores quando aos estudiosos. “O Brasil é um país em que a televisão tem uma presença muito forte, então há uma vasta produção e uma demanda de acesso a ela que impõem a necessidade de discussões e soluções ao cuidado com esse tipo de conteúdo”, conclui ela.
Saiba mais
Além de “Cabra Marcado para Morrer”, está prevista a exibição de “Jogo de Cena”, de Eduardo Coutinho, dentro da mostra Homenagem. Já a Contemporânea vai mostrar “Mar de Fogo”, de Joel Pizzini, entre outros.
A programação completa está disponível no site: www.cineop.com.br

O Tempo

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