sábado, 21 de outubro de 2017

Não vou-me a Pasárgada

Não vou-me a Pasárgada, não quero ser amigo do rei,
claro que compreendo sua ironia, poeta, mas agora falo sério
não quero ter mulheres que nunca terei...
Quero apenas viver numa nação em que mulheres, homens, animais,
toquem reciproclamente suas peles como seres iguais
em que não haja golpes contra os mais fracos,
embrulhados em linguagem supostamente erudita,
em que o patrão, ao tratar bem seu empregado, sinta-se confortado,
em que o empregado sabe que a vida é assim, mas tem de ser razoável,
nada impediria que em Pasárgada houvesse trabalho análogo ao de escravo
quem se alimenta desse trabalho intoxica eternamente sua alma
mas há muita gente que não vê um palmo diante do nariz
principalmente neste País colonizado, em que demos poucos ossos à luta,
deveríamos ter dado muito mais e organizado uma sociedade.
Constituição, um conjunto de palavras ou um mandamento inegociável,
que jamais pode ser tratado com leviandade?
Não vou-me à Pasárgada para dar as últimas gotas de meu sangue
ao País onde terão de habitar meus filhos, netos e bisnetos,
talvez nem mesmo estes verão seu perfil de nação,
onde a morte retira diariamente deste composto de humanos decompostos
seu direito de respirar, beijar a natureza, comer, dormir e sonhar.
Não vou-me a Pasárgada e manifesto ojeriza a reis,
mais uma vez digo que entendo seu simbolismo, caro poeta.

Amadeu Roberto Garrido de Paula, é Advogado, sócio do Escritório Garrido de Paula Advogados.

Esse texto está livre para publicação.

Nenhum comentário:

Postar um comentário