sexta-feira, 13 de outubro de 2017

O preço eterno da injustiça dolosa

Amadeu Roberto Garrido de Paula

Trata-se de um dos temas mais candentes da filosofia do direito e da teologia. Na acepção de Hegel, nossa existência é uma evolução do espírito, por meio de uma tese, do oposto (algo que se lhe contrapõe), e da conclusão abalizada resultante do embate (síntese). Nada superou esse método dialógico de descobrimento da verdade, até as possibilidades cognitivas do homem em nossos dias.

Não obstante seja o melhor de nossa intelecção e adotada no processo judicial cognitivo e de aplicação do direito, todos sabemos que essa aplicação e a pretensa realização da justiça, não raro, é falha. Consequentemente: algum ser humano desafortunado sempre suporta os efeitos da injustiça.

Nesse ponto o único consolo - se cremos que um ato injusto num momento deva ser reparado - somente podemos recorrer ao "direito quântico" (concepção ousada desenvolvida por alguns de nossos melhores jurisconsultos, a começar do histórico professor da Universidade de São Paulo, Gofredo da Silva Telles, aliado à teologia. No ponto, não podemos deixar de registrar que os avanços da física quântica se aproxima do fundamento teológico da eternidade.

Tudo é derivado de um acervo, uma "sopa de potenciais". No início, são os átomos e suas possibilidades. Eles podem converter-se em "partículas”  (massa) ou "elétrons" (energia). São ambos os elementos da configuração do homem. Massa é o corpo, que, em princípio, nasce, cresce, vive e morre. Os elétrons convivem com o corpo - espírito e corpo em ação conjunta - negação do cartesianismo. Em nosso cérebro floresce o espírito - um condensado de "Bosein Einstein", segundo a física dos "quanta" - a velha física de Newton nem mais compõe o ensino nas grandes universidades mundiais.

O corpo morre, mas os elétrons são eternos. Volvem a seu mar de potenciais. Podem novamente "colapsar-se", ou seja, transformar-se em novos corpos acoplados ou em pura e isolada energia. Carregam todas as experiências hauridas em sua experiência dúplice, corporal.

Por consequência, os elétrons se alteram com a dura experiência da injustiça. De ambos, os que cometeram a injustiça e os que a sofreram. O cometimento da injustiça pode decorrer de falsa percepção do direito por parte dos juízes - ou por dolo, colusão com os interesses de uma das partes. Esta segunda hipótese, segundo o velho Código de Hamurabi, era condenada com a morte. Os elétrons também não devem relevá-la, o ato cruel fica cravado indelevelmente em seu interior. O impacto é tão grave que provavelmente esse elétron não mais se colapsará - estará simplesmente destruído como potencial de vida e energia.

Conclui-se que tanto a física como a teologia são inseparáveis do justo e carregam pela eternidade a mazela do injusto, deliberadamente provocado a outras manifestações cósmicas - outros corpos e outras energias.

Amadeu Roberto Garrido de Paula, é Advogado, sócio do Escritório Garrido de Paula Advogados.

Esse texto está livre para publicação.

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