terça-feira, 10 de outubro de 2017

Alexandre Kalil diz que obra de Moraleida é "absolutamente normal"

Após realizar uma visita de cerca de 15 minutos à exposição “Faça Você Mesmo Sua Capela Sistina”, de Pedro Moraleida (1977- 1999), alvo de protestos e tentativas de censura, o prefeito de BH Alexandre Kalil (PHS) manifestou seu apoio à continuidade da mostra, em cartaz no Palácio das Artes há mais de um mês. “A obra é absolutamente normal, não acredito que nenhum homem do século XXI se choque de verdade com o que viu aqui. Nem se fosse mais chocante do que é, porque não é, aqui é o lugar disso”, afirmou o político.
Kalil ressaltou a importância de preservar a autonomia de projetos e do ambiente expositivo. “O direito de expor é sagrado e o direito de liberdade, também”, disse. O prefeito ainda sublinhou que a polêmica tem funcionado como uma espécie de propaganda e reforçou que a galeria é o lugar adequado para tratar das questões abordadas por Moraleida. “Aqui é o lugar de se colocar arte, aqui é o lugar de se colocar gênero, aqui é o lugar de se colocar religião, (mas) não em escolas”, declarou.
Protesto. A visita de Kalil a “Faça Você Mesmo Sua Capela Sistina” ocorreu pouco antes do início de uma manifestação em defesa da exposição, convocada pelo cantor Caetano Veloso, que de passagem pela cidade, visitou a galeria Alberto da Veiga Guignard, anteontem. “Alguns grupos políticos quiseram se aproveitar, de forma demagógica, para enganar o povo. O povo fica assustado, achando que nessas exposições têm algum incentivo à pedofilia, mas não há. O que há aqui é arte”, disse o baiano.
O protesto de ontem começou às 17h30 com a reunião de apoiadores da mostra e da liberdade de expressão, entre eles estudantes, artistas, curadores e professores. Enquanto músicos revezaram-se no palco, entre eles Celso Adolfo e Sylvio Rosa, levando um grupo a reunir-se na calçada, visitantes formaram uma fila para ver a exposição, aberta exclusivamente em razão do grande número de interessados em ver as obras (às segundas, as galerias do Palácio das Artes são fechadas para manutenção).
Ao mesmo tempo, artistas realizaram performances, a exemplo do ator e professor Munish, que surgiu no saguão vestido de Jesus Cristo. “Quando vi a exposição de Moraleida, notei que ele mostrava uma força muito grande do poder da criação. Mas como os fundamentalistas distorceram a ideia, resolvi trazer Jesus à Terra para mostrar a essas pessoas a importância de um principal ensinamento, que é o amor e o respeito”, diz.
Pai de Moraldeira, Luiz Bernardes também marcou presença no evento. Ele afirmou que as obras do filho nunca provocaram reações extremas como agora, com pedidos de cancelamento, apesar de elas já terem sido expostas em outras cidades do Brasil e do exterior.
Ao ver a quantidade de pessoas no local, apoiando o trabalho do filho, ele ressaltou que isso demonstra que a sociedade brasileira não vai aceitar o que chamou de “processo de facistização” do país.
“O ataque à exposição não é uma ameaça ao Pedro nem ao projeto Arteminas que envolve outros três artistas, Desali, Marta Neves e Randolpho Lamonier, mas é uma ameaça à sociedade brasileira. Então, esse ato simboliza que a sociedade não aceita mais isso”, pontuou Bernardes.
Não à censura. Secretário municipal de Cultura, Juca Ferreira afirmou que a manifestação pode ser entendida como um recado à uma ação demagógica e reacionária que tenta restabelecer a censura. “A cidade está dizendo ‘não’ a isso e mostrando que Belo Horizonte é uma das capitais mais civilizadas do Brasil, onde a arte e a cultura têm um ambiente extremamente favorável e que essas pessoas certamente vão ficar isoladas nessa tentativa de restabelecer a censura”, disse Ferreira.
Augusto Nunes-Filho, presidente da Fundação Clóvis Salgado e curador da mostra, reforçou que não teme qualquer ameaça e garantiu a continuidade da mostra. “O que a gente está vendo é a comprovação de que nossa escolha foi acertada. Nossa ideia é provocar reflexões, debates, questionamentos, isso é o coração da arte contemporânea”, afirmou.
Secretário de Estado de Cultura, Angelo Oswaldo pronunciou-se por volta das 19h40 e recordou a organização de uma mostra centrada na obra de Pedro Moraleida em 2002 com o mesmo acervo da atual montada no Palácio das Artes. Ele salientou como daquele momento em diante celebrava-se a relevância da obra do artista.
“Ele deixou um legado de arte importante, antecipando até aspectos que vemos no século XXI. É incrível que 15 anos depois haja uma reação como essa. Algumas pessoas estão trabalhando no sentido do obscurantismo, das trevas, da censura, do retrocesso, mas nós não podemos aceitar essas atitudes retrógradas”, declarou.
Augusto Nunes-Filho, presidente da Fundação Clóvis Salgado e curador da mostra, reforçou que não teme qualquer ameaça e garantiu a continuidade da mostra. “O que a gente está vendo é a comprovação de que nossa escolha foi acertada. Nossa ideia é provocar reflexões, debates, questionamentos, isso é o coração da arte contemporânea”, afirmou.
Secretário de Estado de Cultura, Angelo Oswaldo pronunciou-se por volta das 19h40 e recordou a organização de uma mostra centrada na obra de Pedro Moraleida em 2002 com o mesmo acervo da atual montada no Palácio das Artes. Ele salientou como daquele momento em diante celebrava-se a relevância da obra do artista.
“Ele deixou um legado de arte importante, antecipando até aspectos que vemos no século XXI. É incrível que 15 anos depois haja uma reação como essa. Algumas pessoas estão trabalhando no sentido do obscurantismo, das trevas, da censura, do retrocesso, mas nós não podemos aceitar essas atitudes retrógradas”, declarou.

MinC nega ter facilitado censura da Lei Rouanet

RIO DE JANEIRO. O ministro da Cultura, Sérgio Sá Leitão, negou categoricamente na seunda-feira que tenha proposto qualquer alteração na regulamentação da Lei Rouanet que vete projetos que “vilipendiem a fé religiosa, promovam a sexualização precoce de crianças e adolescentes ou façam apologia a crimes ou atividades criminosas”.
A notícia de que o ministro teria incluído este artigo na minuta que regulamenta aplicação da lei foi dada pelo jornal “O Globo” na quinta passada, e teve ampla repercussão no meio artístico. Produtores culturais e artistas repudiaram a proposta, alegando que, na prática, ela instalaria a censura de fato no país.
Sá Leitão disse que apenas ouviu as reivindicações de representantes das bancadas evangélica e católica no Congresso. O ministro ainda ressaltou que a própria Constituição veta qualquer tipo de censura à manifestação artística e à liberdade de expressão. Mas lembrou que a liberdade religiosa e a proteção à criança e ao adolescente são igualmente garantidas pela lei magna.
Sá Leitão ainda acrescentou que a lei que está em vigor hoje traz, no artigo 27, uma série de recomendações que implicam em análise de conteúdo. “Quando eu entrei (no Ministério), dei a instrução para que não fosse mais usada mais, pois fere a Constituição”.
Histórico
Pedro Moraleida. Em Belo Horizonte, a exposição “Faça Você Mesmo a Sua Capela Sistina”, é alvo de protestos contra sua permanência e a favor. Relembre as demonstrações:
4 de outubro. Em meio a uma polêmica nacional em torno de obras de arte e seus limites, o vereador Jair di Gregorio (PP) publica vídeo no qual repudia a exposição e a acusa de incentivar “pornografia, pedofilia, ataque ao cristianismo, zoofilia e drogas”.
5 de outubro. Grupo liderado por pastor vai ao Palácio das Artes, chegando a entrar na galeria para protestar contra a exposição.
6 de outubro. Em resposta à manifestação do dia anterior, grupo em defesa da liberdade das artes se manifesta no local.
8 de outubro. Caetano Veloso, que faz show no Palácio, visita a exposição e a defende.

9 de outubro. Prefeito Alexandre Kalil vai ao local, vê as obras, e nega haver “homem do século XXI se choque de verdade com o que viu”.

O Tempo

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