sábado, 14 de outubro de 2017

O populista


Amadeu Roberto Garrido de Paula

Denomina-se populista, no caderno ortográfico político, aquele que apregoa realizar a vontade popular, enganosamente. O populista falseia a manifestação da vontade popular, por meio de uma representação ludibriante.

 Navega o populista em mar razo, e procura fazer crer o contrário. Não se preocupa em atuar sobre as vigas mestras e basilares da política, em sentido garantista de mudanças e aperfeiçoamentos de efeitos salutares sobre a economia, a política e os interesses sociais.

 Faz do povo, principalmente da camada trabalhadora, massa de manobra. Concede algumas benesses superficiais, que ficarão esvaziadas e gerarão problemas nas finanças públicas. Estas não são vistas com seriedade; os recursos disponíveis serão gastos na gestão do populista, pouco importando a sorte de seu sucessor.

 É um camelô. Não são incompatíveis as figuras do carismático e do populista, muito pelo contrário. O exclusivo interesse do populista é pessoal e voltado ao fortalecimento de seu grupo. Partidos populistas conseguiram manter-se por muitos anos no poder. Sem mudar uma vírgula na situação dos governados, suas sucessivas promessas garantem-lhe a vitória das eleições. Talvez o mais longevo político populista tenha sido o PRI (Partido Revolucionário Institucional) do México. Já se via a mentira em sua denominação: "revolucionário" (de mudanças) “institucional" (de permanência).

 O partido populista não é um partido de quadros, porquanto estes são preocupados em análises e procedimentos verticais, profundos. São partidos de massas; quanto  maior o número de partidários melhor, desde que estejam barrados os acessos aos cargos mais altos. O vasto número de partidários auxilia na formação da falsa credibilidade.

 O País do populismo será saqueado e sua nação depauperada. Ficarão fortalecidas elites políticas e econômicas. O fosso social será aprofundado, sob ilusões de um primeiro momento.

 Postas essas premissas, fica evidente que foram populistas os governos de Lula da Silva e Dilma Roussef. O primeiro aprendeu a ser camelô no sindicato, quando aprovava vastas reivindicações em representativas assembleias, ao fim e ao cabo mais aproveitadoras às grandes montadoras de automóveis, que colonizaram o Brasil, do que aos respectivos industriários. 
Os engodos corriam ininterruptamente na vida sindical, fáceis porque aplicados sobre gente simples. Fingindo-se de simples como eles.

 O Sr. Lula da Silva sempre procurou simplificar o que não é simples, único modo de demonstrar sabedoria por quem não a tem. No começo, as coisas não evoluíam por falta de "vontade política" das elites. Depois a pregação moralista, muito mais elementar que uma proposta de governo. Bordões bizarros, como os "nunca antes vistos na história deste País", que começara em São Bernardo do Campo. E assim por diante...

 Sem compromissos nacionais, o populista assalta o erário e deixa assaltar. Ocorre que a roubalheira no período petista ficou escancarada, para frustração da esquerda sincera não só no Brasil. Um estelionato que abalou mais a própria ideologia histórica, que não só feneceu como abriu campo ao crescimento da ultradireita no mundo. 

 Ainda que criminalmente punidos, os populistas do PT abriram um buraco no coração da gestão pública, de consequências muito duradouras.

Amadeu Roberto Garrido de Paula, é Advogado, sócio do Escritório Garrido de Paula Advogados.

Esse texto está livre para publicação.

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