quinta-feira, 9 de novembro de 2017

Crise cerebral

Amadeu Garrido de Paula

A crise brasileira abrangente - social, política, institucional - tornou-se pior quando suas bactérias comprometeram as pessoas, em seu órgão mais delicado, o cérebro. Ele produz a ciência e a consciência das coisas. O conhecimento que mais importa às pessoas é o político. Isso porque nossa casa mais ampla, na qual se insere nosso casulo, é a "polis". Nossa rua pode ter, ou não, asfalto ou assaltantes, exemplificativamente.

A política, em sua essência sadia, é a mais importante ferramenta de construção do mundo. Lamentavelmente, vejo que os brasileiros, desde o mais humilde até um Ministro do Supremo Tribunal Federal, não sabem como caminhar no terreno da política, neste instante.

Dizem os que nos governam, com segurança, que tem esse conhecimento. Não poderia ser de outro modo. Porém, apenas no verbo. A realidade brasileira está imersa nas mais densas brumas de nossa história. Ninguém a vê, coberta pela tempestade perfeita, e esse é o ponto mais crucial. A cegueira é confessada diariamente por nós e por nossos interlocutores.

Só conhecem - dizem - a política os movidos por ideologia. A ideologia fornece segurança, mas, ao mesmo tempo, é o carrasco das ideias. Fechado o raciocínio, o cérebro fica feliz e seu titular idem. Daí o dualismo burro, que caminha de Lula ao capitão Bolsonaro.

O pior. O tempo nos consome. Temos de encontrar solução, ainda que insatisfatória, mas indicadora do caminho correto, em um ano. Depois disso, se a vontade das urnas deteriorar ainda mais a política, teremos, simplesmente, mais uma década perdida. Nós, filhos e netos, neste país continental e naturalmente rico, não merecemos esse destino, talvez insuportável.

A luz que hoje vemos no final do túnel, amanhã é uma locomotiva em sentido contrário. Muitos de nossos compatriotas já me disseram que não observam mais os jornais, escritos ou falados. Desse modo, caminhamos para os fundos abissais.

Ciente de que os homens resolvem seus problemas, arrisco-me a uma proposição metodológica. Sem poder alterar o deprimente "presidencialismo de coalisão", devemos escolher um Chefe de Executivo testado nas atividades governamentais e moralmente admissível. E que tenha a seu lado homens equilibrados, que tenham posições políticas fundamentadas,  o que significa que não se trata nem da direita nem da esquerda, mas do iluminismo, que parece ainda não ter lançado suas luzes sobre o Brasil. Sem critérios metodológicos, jamais criamos conjecturas corretas. Sabem-no muito bem os filósofos entregues ao ramo da epistemologia (estudo dos métodos), que se contam nos dedos entre nós.

A partir do método, decidamos. Não permitam que a mídia e as propagandas pedestres contaminem seus cérebros. Somente sairemos dessa crise se acionarmos às profundezas nossa atividade cerebral. E todos podem fazê-lo. Não se trata de erudição, mas de percepção, que podemos conquistar, ao trocar ideias serena e civilizadamente, mesmo nos botecos.

Amadeu Garrido de Paulaé Advogado, sócio do Escritório Garrido de Paula Advogados.

Esse texto está livre para publicação.

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