sábado, 18 de novembro de 2017

Corinthians e o inconsciente coletivo

Amadeu Garrido de Paula

Sabe-se que Jung foi o descritor do fenômeno "inconsciente coletivo" e estudioso de suas características. Se temos um inconsciente individual, um depósito segregado de coisas ruins e boas, que por vezes têm suas comportas rompidas e a racionalidade deve administrá-las, no sentido da vida mais saudável possível, não há porque discordarmos dessas dualidades psíquicas comuns, sobretudo no interior de um grupo social que adota meios homogêneos para atingir finalidades compartilhadas.

Somos advogados e conhecemos meros resquícios de livros psicológicos, mas a advertência de Pascal, no sentido de que é melhor saber um pouco de tudo do que tudo de um único tema, nos parece correta sob o aspecto da universalidade humana, ainda que possamos, obviamente, incorrer em erros que serão espancados pelos especialistas. Não foi outra coisa o que fez a filosofia, que não era domínio da sabedoria, mas amor pela sabedoria, por muitos séculos, quando considerada a ciência de todas as ciências.

A tentativa de explicação desses saberes superficiais a um fato bem concreto da vida popular (a conquista do campeonato brasileiro pelo Corinthians, neste ano) pode contribuir em parte à retirada do véu da ignorância que a todos atinge, ressalva feita às especialidades.

Primeiro, seria um bom motivo de pesquisa saber por que os corinthianos formam um grupo expressivo e obsessivo e sofrem um combate de todos os demais grupos de torcedores do futebol. Outras torcidas têm as mesmas características e não são objeto do "anti", que é uma realidade no caso corinthiano.

No tangente ao inconsciente coletivo, o Corinthians fez um ótimo primeiro turno (coisas do futebol). Eis que um de nossos melhores representantes desse esporte, Renato, técnico do grêmio, expressou uma premonição: o Corinthians iria desabar. Para ele, talvez não tenha sido premonição, mas simples adiantamento de previsão em vista da verificação do que ordinariamente ocorria nos jogos, cuja interpretação é seu mister.

Como na mídia esportiva de um limão sempre se faz uma limonada, sua declaração se espraiou e, para os corinthianos, foi, sim, uma maldição lançada pelo gaúcho. A resistência foi geral.

No inconsciente coletivo corinthiano (torcedores, atletas etc) cresceu em alta proporção a vontade emotiva de ganhar o campeonato, para desfazer a bruxaria, ainda que não admitido o vaticínio bruxesco por sua parte ilustrada. E, no dos demais clubes, a necessariedade de fazer valer a premonição oriunda dos bravos gaúchos. Para algo desabar, devem concorrer, numa competição, a debilidade do que está nas alturas e uma caminhada ascensional dos outros.

Ocorre que a virtude de expressão do inconsciente é intervenção do consciente, para concretizar o contrário, quando não desejado. Assim, os corinthianos se aplicaram ao fato de não descer da torre, o que foi oscilante, dadas as características técnicas de seu elenco, mas, ao fim e ao cabo, deu no que deu. E os que deveriam fazê-los descer, escorregaram demais, qual no mito de Sísifo. Conscientemente, não se viam obrigados a promover a derrocada de um determinado clube.  Vejam: todos os fatos têm múltiplas causas, esta pode ter sido apenas uma delas, no plano psicológico.

Se os corinthianos se dispuseram a auxiliar o Grêmio na final da Copa Libertadores, basta dizer que estão predestinados a perder...

Amadeu Garrido de Paulaé Advogado, sócio do Escritório Garrido de Paula Advogados.

Esse texto está livre para publicação. 

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