Até o momento, a posição científica assenta ferreamente a origem natural. Motivos não faltam. A proliferação entre animais causadores constitui prova robusta. Por outro lado, não há nenhuma comprovação de vazamento de laboratórios. Porém, essa resposta é incapaz de desfazer todas as dúvidas.
Pende do lado da versão científica o uso político e consequente estremecimento das relações internacionais, caso se tornasse induvidoso que a vírus teve origem chinesa. A China seria responsável pelo maior cataclismo sofrido pela Terra.
O argumento é frágil quando se considera quem predominantemente o emite. Donald Trump. Nada mais comprometedor de sua credibilidade. Seja como for, persiste o dilema. Não há argumentos exaustivamente convincentes, de um lado ou de outro.
Note-se que ganha força a suposição segundo a qual o simpático, ainda que escamoso, pangolim, é mais suspeito do que o morcego. Mas não há pangolins somente em volta da China. Habitam grande parte do mundo. Logo, por que razão infectariam os primeiros infectados, da cidade do laboratório chinês? É algo mais misterioso que uma coincidência.
Há algo tão terrível, vindo do campo político. O laboratório não é administrado por um governo da democracia e das liberdades públicas, em que avulta em importância a transparência. Não há comando autoritário, de partido único, comprometido com a verdade. É certo que esses incidentes dramáticos em usinas e laboratórios não são dolosos, porque custa a crer que uma decisão kamikaze poria o mundo em risco. São culposos, em que não se deseja o resultado. Porém, a responsabilidade, no caso irreparável, não é afastada. O acidente nuclear de Chernobyl, como se sabe, deveu-se à teimosia dos burocratas dirigentes da URSS, contrária ao entendimento dos cientistas.
Que a ciência não se verga, é um mantra. Porém, ante a possibilidade de a pandemia sanitária transformar-se numa pandemia política, talvez mais grave ainda, pode ter justificado uma exceção que tenha levado os cientistas chineses ao silêncio.
Enfim, o pangolim pode estar carregando a culpa dos homens.
* Amadeu Garrido de Paula, poeta e ensaista literário, é advogado, atuando há mais de 40 anos em defesa de causas relacionadas à Justiça do Trabalho e ao Direito Constitucional, Empresarial e Sindical. Fundador do Escritório Garrido de Paula Advocacia e autor dos livros: “Universo Invisível” e “Poesia & Prosa sob a Tempestade”. Ambos à venda na Livraria Cultura.
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